Querida avó,
Ainda na passada semana falávamos do Cemitério dos Prazeres, que acabou por receber esta semana mais um morador, conhecido e admirado por grande parte dos portugueses.
Este novo residente nasceu com o nome João Simão da Silva, mas todos o conheciam como Marco Paulo. Havemos de falar dele noutra ocasião.
Hoje gostaria de falar-te da Golegã, uma terra que te diz muito.
Não conhecia o município. Sabia que é a capital do cavalo, que foi a terra do grande fotógrafo Carlos Relvas, que é a terra da Paladin, mas pouco mais…
Até final de novembro, a exposição do Ruy de Carvalho estará patente no Museu Municipal Martins Correia e na Casa Mendes Gonçalves. Como comissário da exposição tenho ido à Golegã frequentemente. Cada vez que lá vou aproveito para conhecer mais sobre a sua história, tradições, cultura …
O mentor desta iniciativa foi o Carlos Gonçalves. Empresário da empresa agroalimentar da Golegã que produz molhos e temperos para mais de 30 países, imagina. Como grande parte dos portugueses, o Carlos tem uma enorme admiração pelo Ruy de Carvalho. Como tal, decidiu homenageá-lo na Golegã, onde vive e onde tem a empresa.
Não podia ter escolhido melhor data. Como sabes, em novembro acontece a Feira Nacional do Cavalo, também conhecida como Feira da Golegã ou Feira de S. Martinho. Nesta altura, a pacata região do Ribatejo, onde residem cerca de 3600 habitantes, chega a receber mais do que 25000 pessoas.
O Ruy vai lá estar numa tertúlia no próximo dia 13 de novembro (dia de aniversario da grande Anita Guerreiro).
Que bom que Portugal tem empresários como o dono da Paladin. À semelhança do que foi feito pelo saudoso Rui Nabeiro ou pelo José Ferreira Pinto Basto (fundador da Vista Alegre), o empresário investe grande lucro da empresa na região, na Cultura e na Educação.
Há pessoas que mudam o mundo para melhor. O Carlos é um exemplo para muitos!
Bjs
Querido neto,
Perdi a conta à quantidade de vezes que entrevistei o Marco Paulo. No tempo em que usava os caracóis, quando o cabelo não estava como ele queria pedia para alterar o dia ou hora da entrevista. Sempre concordei. Foi sua imagem de marca durante décadas. Um artista tem de se apresentar sempre da melhor maneira. Nos últimos anos sofreu imenso.
Quanto à terra dos equídeos, escusado será dizer que, ao longo da vida, fui à Feira de São Martinho, na Golegã, inúmeras vezes.
Como sabes sou torrejana. Como tal, estava sempre lá caída. Não só na Feira do Cavalo, como ao longo do ano.
O meu irmão José Vassalo Pereira dedicou grande parte da sua vida à pintura. Poucos sabiam da sua produção plástica cujos temas dominantes eram as paisagens do Ribatejo, cavalos e cavaleiros. Grande parte da sua obra foi doada à Câmara da Golegã.
Gosto imenso da Biblioteca Municipal onde é também o Museu da Máquina de Escrever. Não fosse eu ter uma máquina de escrever centenária, que fará para sempre parte das minhas memórias.
Estou com saudades de voltar à Golegã. De ir às escolas falar dos meus livros… Um belíssimo local para realizar a exposição sobre a minha vida e obra.
Quando lá formos levas a avó à Fundação Saramago na Azinheira? Ainda não tive oportunidade de ver este polo cultural na terra natal do escritor Nobel da Literatura.
Posso aceitar que não gostes de touradas… Mas não entendo, gostando tanto de cavalos, que nunca tenhas montado a cavalo. Nem pareces ribatejano. Fala com os teus novos amigos.
O Marco Paulo cantava: «Ninguém, ninguém/ Poderá mudar o mundo»… Mas empresários como o teu amigo da Golegã mudam a vida de muitos, para melhor.
Se gosta tanto do Ruy de Carvalho, já o considero meu amigo também.
Ainda não me contaste nada sobre a viagem que fizeste para celebrar o teu aniversário.
Diverte-te pelo Ribatejo.
Bjs