Magalhães Crespo. ‘O engenheiro’ que segurou a Renascença

1930-2024. Magalhães Crespo liderou a expansão da emissora católica.

Morreu esta terça-feira, aos 94 anos, o homem que liderou o Grupo Renascença Multimédia ao longo de mais de três décadas e que era presidente emérito desde 2005. Magalhães Crespo integrou o conselho de gerência daquela emissora em 1974, por convite do então cardeal-patriarca de Lisboa, António Ribeiro, e viria a transformar a Renascença num «farol de liberdade em Portugal», como ele mesmo dizia. Depois do período de ocupação da RR no PREC, coube-lhe a recuperação da emissora católica, assumindo um papel central na expansão do grupo, com a criação das estações RFM, em 1987, e Mega Hits, em 1998, dando os primeiros passos na área do digital, já este século.

Engenheiro de formação, e um homem de fé, nascido numa família tradicional católica, Fernando Magalhães Crespo foi sempre conhecido como ‘o engenheiro’, e viria a assumir um papel decisivo na rádio portuguesa, isto depois do período conturbado do pós-25 de Abril, pois, como relembra a Renascença, a 7 de novembro de 1975, os emissores da RR na Buraca (Amadora) foram destruídos à bomba por ordem do Conselho da Revolução e a nova lei da rádio abriu caminho à nacionalização. Entre julho de 1974 e dezembro de 1975, num período definido por Magalhães Crespo como «caótico», as instalações da RR no Chiado, em Lisboa, estiveram ocupadas por forças de extrema-esquerda e por militares do COPCON. «A necessidade de criar liberdade na Rádio Renascença foi intensa, até dezembro de 1975», disse Magalhães Crespo. «Se não tivéssemos sido tão atacados, talvez não tivéssemos hoje a posição que temos», adiantou em 2018, numa entrevista à Renascença.

Em junho desse ano, recebeu o prémio ‘Fé e Liberdade’, atribuído pelo Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica, devido ao papel que desempenhou durante a crise da Renascença, em pleno PREC. Já em 2023, foi condecorado pelo Presidente da República, com o grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique. «Nunca me arrependi nem nunca tive qualquer dificuldade em recusar as oportunidades que me surgiram, mesmo vendo colegas ter grandes lugares na banca ou nas empresas públicas. Este foi um lugar que preencheu totalmente o meu desejo de satisfação pessoal, o meu ego», reconheceu na referida entrevista.