Quem tem medo de Luís Neves?

Parece evidente que Luís Montenegro tem um problema com as lideranças das forças de segurança e de informações. Mas será que o Presidente da República não achou estranho o SSI estar tanto tempo sem líder e a PJ ter estado em gestão durante cinco meses?

A nomeação de Luís Neves para mais um mandato à frente da Polícia Judiciária é um dos fenómenos mais misteriosos da política portuguesa recente. Vejamos: o diretor nacional da PJ fez dois mandatos, o último dos quais terminou em junho, sendo, por isso, expectável que o Governo o tivesse reconduzido ou não. Mas, aqui, como noutros casos, o Executivo de Luís Montenegro optou por um ‘ainda’, como se diz em Moçambique, que é como quem diz, ‘ainda não’. Estamos a falar de alguém que acabou o seu mandato, supostamente, em 18 de junho, mas só viu o seu nome ser reconduzido em novembro!!! Há uns meses, a 28 de agosto, a ministra da Justiça, quando questionada pelo Nascer do SOL sobre a recondução de Luís Neves, respondeu: «A nomeação do Diretor Nacional da PJ é feita por despacho conjunto da Ministra da Justiça e do Primeiro-Ministro, que ainda não foi assinado. O atual Diretor Nacional manter-se-á em funções até ao anúncio da decisão do Governo».

Agora, o gabinete do primeiro-ministro fez saber o seguinte: «Considerando o desempenho do Coordenador Superior de Investigação Criminal Luís António Trindade Nunes das Neves como Diretor Nacional da Polícia Judiciária, este foi nomeado para nova comissão de serviço, nos termos do Decreto-Lei n.º 137/2019, de 13 de setembro, por um período de três anos». Já a ministra da Justiça, numa nota enviada à Lusa, também disse de sua justiça: a recondução de Luís Neves é «uma decisão certa e convicta que teve em conta o interesse da instituição e da investigação criminal para a Justiça do país». Extraordinário!

Durante quase cinco meses, o diretor nacional esteve em gestão, pois o Governo, na pessoa do primeiro-ministro e da ministra da_Justiça, não conseguiu descortinar o «interesse da instituição e da investigação criminal para a a Justiça do país». O que se terá passado para um homem que serve a PJ há mais de 20 anos, os últimos seis dos quais como diretor nacional, só ter sido reconduzido cinco meses depois de ter terminado a última comissão de serviço?

Alguém consegue explicar isto? Suponho que não e o que se diz nos bastidores ainda é mais intrigante. Estando a Polícia Judiciária numa guerra aberta e declarada com a PSP – veja-se a fuga de informação do depoimento prestado à PJ pelo agente que supostamente matou Odair Moniz, mas que ainda não foi entregue ao advogado do agente policial – como é possível continuar a alimentar essa guerra? Quererá o Governo retirar à PSP e à GNR as suas equipas de investigação criminal? Como é sabido, Luís Neves recusou o cargo de secretário-geral do Sistema de Segurança Interna (SSI), supostamente o organismo que mais força poderá ter, como foi o caso durante a Jornada Mundial da Juventude. Ou talvez o Governo não acredite na hipotética força do SSI, pois ao comando das operações estão dois juristas sem grande treino de comando.

As trapalhadas do Governo com as forças de segurança e de informação são tantas que dão para escrever um livro. Qual a razão para o SSI ter estado tanto tempo sem liderança? Por que razão Luís Montenegro pediu a demissão, em 2023, de Maria da Graça Mira Gomes, secretária-geral do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP), e só mais de um ano depois esta foi substituída, por sinal, por um maçom, de seu nome Vítor Sereno? O que se passará com Luís Montenegro para ficar tão desconfortável com as lideranças destas forças policiais e de informações? E, como é óbvio, não está em causa a competência das pessoas referidas, apenas é muito estranho toda esta novela com laivos mexicano e esquadros e compassos à mistura.

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