Crime e castigo de despejo

Se Ricardo Leão se aproximou da extrema-direita, para reencontrar o Yin-Yang que dá viço à Rosa não resta ao PS aproximar-se agora da extrema-esquerda…

Ricardo Leão, presidente da Câmara de Loures, defendeu que os residentes nos bairros sociais condenados por crimes deveriam ser despejados, «sem dó, nem piedade». Este rugido de Leão alvoroçou a selva. E logo se levantaram as aves do agoiro Fascista. Camaradas e jornalistas camaradas consideraram que rugir daquela maneira equivalia a seguir as políticas de extrema-direita do Chega.
De facto, há algumas semelhanças entre Ricardo Leão e Pedro Pinto, o líder parlamentar do Chega que gostaria que a Polícia disparasse primeiro e fizesse perguntas depois. São ambos homens binários, morenos e com evidente gosto pelos prazeres da gula. É provável que também ambos assinem a Netflix, sejam do Sporting e prefiram a Sagres à Super Bock. Nenhum dos dois aceitaria o convite para participar num filme erótico de baixo orçamento. No resto, são bastante diferentes. Por exemplo, na farta juba de Leão – ainda que o penteado suscite reservas – contrastante com a calvície de Pinto.
Contudo, se o autarca socialista assumiu uma posição de extrema-direita, a autarquia comunista de Montemor-o-Novo concretizou-a. Em 2007 construiu um muro que isolou a comunidade cigana do Bairro das Pedreiras do centro da cidade. É certo que os comunistas têm um fetiche por muros, mas os ciganos não são cidadãos da RFA que queriam entrar à força na RDA. Então, porque motivo muitos dos que agora se indignaram, outrora se calaram?
Por onde voavam as aves do agouro fascista?
Só pode haver uma explicação.
O autarca comunista Carlos Manuel Rodrigues Pinto de Sá foi um visionário que, antes da ‘geringonça’, percebeu que depois de José Sócrates o PS só alcançaria o poder se se aliasse com a extrema-esquerda. Logo, segregar os ciganos não foi um ato de racismo, mas sim um dano colateral. A verdadeira intenção era lançar um sinal subliminar ao PS: ‘Como vão precisar de nós para governar e muita gente vai torcer o nariz a esta aliança, inventem que o Muro caiu. Pelos menos os jornalistas vão acreditar’. António Costa foi o primeiro a captar o sinal comunista e a primeira coisa que disse para justificar tal aliança foi que o Muro tinha mesmo caído. O Muro que separa os amigos das ditaduras dos defensores da democracia permaneceu em pé, mas a Geringonça voou em cima de uma vaca como Europa raptada por Zeus disfarçado de boi.
Seja como for, se Ricardo Leão se aproximou da extrema-direita, para reencontrar o Yin-Yang que dá viço à Rosa não resta ao PS aproximar-se agora da extrema-esquerda. Não com medidas cosméticas como reunir-se com o BE e o PCP, ou jogar no Roblox com o Livre, mas algo verdadeiramente revolucionário, com aroma a PREC: propor o despejo, seja lá onde morem, com roupa, mobiliário e penicos atirados pela janela, dos deputados do Chega.