Os partidos do ‘centrão’ estão a suicidar-se

Por que defender as mesmíssimas causas nuns partidos é desprezível populismo e nos outros atenção à realidade?

E, de repente, os cegos vêem, os surdos ouvem e os mudos falam. O sólido bom senso de 75 milhões de americanos provocou o milagre. Jornalistas, comentadores, opinadores, cronistas, pequenos e médios políticos tiveram a sua estrada de Damasco batendo com a cabeça na parede do óbvio ululante: que o jornalismo mainstream era profundamente enviesado à esquerda, os jornais meros desdobráveis de propaganda política sortida e os estúdios de televisão simples câmaras de eco de claques de futebol – sempre o mesmo. O Chega já o denunciara muitas vezes, mas era ‘vitimização’, juravam os agora miraculados. Como descobriram, também, esses miraculados, que os partidos do centrão radical estavam a perder votos por não se dedicarem à resolução dos problemas que interessavam ao comum dos mortais, caso da segurança, da imigração e da teologia woke.
Sobre a primeira questão, a dos media: É para estes ‘pilares da democracia’, para ‘fomentar o apoio de informação credível’ para ‘assim impedir o consumo das fake news das redes’ que este Governo vai queimar 78 milhões de euros no próximo ano? Fica a pergunta. E arrumado o assunto, que não merece mais.
Passemos à segunda questão, a dos partidos do centrão e à sua não estancável hemorragia de votos. Exemplo entre muitos possíveis, um texto de Helena Garrido no Observador: «Enquanto os novos partidos, ou líderes como Trump, falam dos problemas básicos dos cidadãos (…) os partidos tradicionais (…) falam de direitos que boa parte nem entende». Mas, como em todos estes textos dos convertidos à realidade, não falta o eterno chavão: «Enquanto continuarmos a olhar para o dedo em vez de vermos a lua, manteremos esta trajectória de crescimento dos populismos». Mas então as coisas que o Chega defendia e que eram desprezivelmente apontadas como ‘conversa de café’ e ‘tiradas de taxista’ afinal são ‘problemas básicos do cidadão’? Ora os partidos ditos populistas, são declarados depreciativamente como populistas exatamente por se baterem pelos ‘problemas básicos do cidadão’. Então por que se dá razão ao essencial desse combate, desclassificando o combatente precisamente por ter travado esse combate e se apela aos partidos que nunca o fizeram para que passem a fazê-lo e passem, assim, a ser tão populistas quanto o são os desprezados partidos populistas, mas sem serem populistas? Por que defender as mesmíssimas causas nuns partidos é desprezível populismo e nos outros atenção à realidade?
Mas tenho más notícias para a Helena Garrido e todos os muitos que nestes dias têm afinado por esse diapasão: a vitória de Trump deu visão aos cegos, mas não irá ressuscitar os mortos. E os partidos do centrão que controlam a Europa há dezenas de anos vivem, incomunicáveis, num universo paralelo e, por isso mesmo, estão mortos neste nosso corriqueiro universo de todos os dias. Esses partidos, em toda a Europa tão pródigos em cordões sanitários, suicidaram-se com esses cordões em torno do pescoço. Cá como em França ou na Alemanha. Partidos que estão arruinando os seus países tendo, como única preocupação, as suas risíveis linhas vermelhas. Estão, com elas, a impedir governos funcionais e com base popular enquanto, com as suas agendas woke arruinaram os seus países, até com o antigamente poderoso eixo franco-alemão reduzido a cinzas. Mas sobre isto falaremos na próxima semana.