Barragens. Armazenamento regista ligeira descida, com disparidades regionais significativas

A monitorização dos níveis de armazenamento das barragens continuará a ser essencial nos próximos meses, à medida que o país avança para o período de maior consumo hídrico. O comportamento dos níveis de precipitação será decisivo para determinar os desafios que se avizinham no início de 2025.

O volume de água armazenado nas barragens nacionais registou uma redução de 35 hectómetros cúbicos (hm³) entre os dias 11 e 18 de novembro, alcançando agora 9480 hm³ (hectómetro cúbico), o que corresponde a 71% da capacidade total de armazenamento. Apesar de, em termos gerais, os níveis continuarem acima das médias de novembro, algumas regiões enfrentam situações críticas. De acordo com o boletim semanal do Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH), a maior parte das albufeiras apresenta níveis de enchimento dentro de valores aceitáveis, com 34% das barragens monitorizadas acima de 80% da sua capacidade. Contudo, 15% das albufeiras estão em situação preocupante, com menos de 40% da capacidade total armazenada.

As bacias do Lima, Mira, Arade, Ribeiras do Barlavento e Ribeiras do Sotavento destacam-se negativamente, apresentando níveis abaixo da média histórica para novembro. Por outro lado, bacias como Douro e Tejo mostram resultados ligeiramente superiores à média, contribuindo para um panorama mais equilibrado.

Entre as barragens com maiores dificuldades, Monte da Rocha, na bacia do Sado, é uma das mais críticas, com apenas 12% da sua capacidade preenchida, e Bravura, no Barlavento, regista apenas 13%. Em contraste, a barragem de Serra Serrada, na bacia do Douro, atingiu a sua capacidade máxima (100%), sendo uma exceção entre as restantes estruturas monitorizadas. O Alqueva, a maior barragem do país, mantém-se estável com 80% de armazenamento, desempenhando um papel crucial na gestão hídrica do sul do país.

O relatório também aponta para diferenças na evolução dos níveis de armazenamento entre as regiões. Entre 11 e 18 de novembro, sete bacias hidrográficas registaram aumento no volume armazenado, enquanto outras oito enfrentaram quedas. Este comportamento reflete as condições meteorológicas desiguais e a distribuição irregular da precipitação no território nacional.

Diversos especialistas já alertaram para o facto de que a situação das bacias mais críticas reforça a necessidade de uma gestão mais eficaz dos recursos hídricos, sobretudo em regiões sujeitas a seca recorrente. Com as alterações climáticas a agravar o risco de escassez, torna-se fundamental adotar estratégias de uso eficiente da água, conciliando as necessidades humanas, agrícolas e ambientais. A monitorização continuará a ser essencial nos próximos meses, à medida que o país avança para o período de maior consumo hídrico. O comportamento dos níveis de precipitação será decisivo para determinar os desafios que se avizinham no início de 2025.

Níveis das barragens no Algarve aumentam para 34% após recentes chuvas

As chuvas intensas trouxeram algum alívio à grave situação hídrica no Algarve, fazendo com que as barragens da região registassem um aumento significativo nos seus níveis de armazenamento. A capacidade média das barragens algarvias subiu para 34%, de acordo com os dados mais recentes, revelando um progresso moderado, embora insuficiente para inverter a situação de seca extrema que afeta a região.

Apesar da melhoria, o nível atual continua abaixo dos valores considerados confortáveis, especialmente para uma região que depende fortemente das suas reservas de água para o abastecimento público, agricultura e turismo. Entre as principais barragens da região, Odeleite e Beliche destacaram-se pelo impacto positivo das chuvas recentes, embora continuem longe da capacidade plena.

As autoridades locais e especialistas alertam que, embora o aumento seja bem-vindo, a solução para os problemas de escassez hídrica no Algarve requer medidas estruturais e sustentáveis. Entre as soluções apontadas estão o reforço na reutilização de águas residuais tratadas, a construção de novas infraestruturas de armazenamento e a promoção de campanhas de sensibilização para o uso eficiente da água.

Este cenário sublinha a vulnerabilidade do Algarve perante as alterações climáticas, que têm intensificado a irregularidade dos padrões de precipitação na região. Mesmo com as chuvas recentes, a recuperação plena das reservas hídricas dependerá de um inverno consistentemente chuvoso e de estratégias eficazes de gestão dos recursos hídricos.

Gestão da água em Portugal: entre a abundância e a escassez

Portugal dispõe de uma disponibilidade hídrica per capita que é o dobro da média europeia, mas a gestão ineficaz deste recurso essencial continua a ser um problema. Durante o X Congresso Nacional da Rega e da Drenagem, realizado recentemente em Alcobaça, especialistas e profissionais do setor reforçaram a urgência de enfrentar desafios relacionados com as alterações climáticas e a gestão dos recursos hídricos, como explica ao i Hélder Lopes,especialista da Meteored Portugal.

Relativamente à distribuição do recurso pelo território, os dados mais recentes revelam disparidades significativas. Na primeira quinzena de novembro, 34% das albufeiras tinham disponibilidades superiores a 80%, enquanto 15% apresentavam volumes abaixo dos 40%. Esta realidade expõe desequilíbrios regionais que tornam a gestão mais desafiante. “Estes dois tópicos são relevantes, porque o problema não assume um caráter nacional”, afirma Hélder Lopes, alertando para a necessidade de soluções específicas e localizadas.

Outro dado preocupante está relacionado com o desperdício de água. “Dos 56 mil milhões de metros cúbicos de água disponíveis anualmente em Portugal, 53 mil milhões escoam diretamente para o mar, sem aproveitamento significativo”, destacou o engenheiro agrónomo Jorge Froes, citado por Hélder Lopes, doutor em Geografia e Planeamento Regional pela Universidade do Minho e em Geografia – Ramo de Mudanças Globais e Sistemas Naturais pela Universidade de Barcelona com a classificação máxima e distinção e louvor. Este volume inclui precipitação, águas subterrâneas e escoamentos provenientes de Espanha, representando, segundo Froes, “um potencial subaproveitado que poderia ser gerido de forma mais eficaz para assegurar a sustentabilidade de várias atividades económicas, com especial enfoque na agricultura”.

Atualmente, 60% da produção agrícola em Portugal depende do regadio. Contudo, apenas 16% da superfície agrícola utilizável está equipada para beneficiar deste sistema. Segundo Hélder Lopes, “a tendência de aumento das temperaturas e redução da precipitação pode, no futuro, inviabilizar as culturas de sequeiro, comprometendo a subsistência de áreas rurais”. Este cenário reforça a importância de modernizar o regadio, que surge como uma prioridade estratégica.

Segundo o especialista da Meteored Portugal, a FENAREG – Federação Nacional de Regantes de Portugal está a preparar-se para apresentar, nas XV Jornadas da Resiliência Hídrica, um estudo que identifica os investimentos necessários até 2030 para modernizar os sistemas de rega. A iniciativa visa garantir a segurança alimentar e a sustentabilidade do setor agrícola no contexto das alterações climáticas. Durante o congresso, Jorge Froes destacou a urgência destas mudanças, sublinhando que “dos 56 mil milhões de metros cúbicos de água disponíveis anualmente em Portugal, 53 mil milhões escoam diretamente para o mar”.

Além disso, as alterações climáticas estão a alterar os padrões de precipitação no país. Chuvas menos frequentes, mas mais intensas, têm sido acompanhadas por períodos prolongados de seca, agravando a pressão sobre os sistemas hídricos. A par disso, o Governo anunciou a construção de três novas barragens e intervenções em infraestruturas existentes para mitigar os efeitos das cheias e das secas. Contudo, estas propostas têm gerado controvérsia. O especialista Hélder Lopes explica que a associação ambientalista ZERO sugere que mais estudos sejam realizados para avaliar os impactos ambientais das barragens e aponta para alternativas, como a interligação de sistemas hídricos, apesar dos elevados custos ecológicos.

Durante o congresso, o modelo de gestão do Alqueva foi citado como um exemplo de sucesso. Baseado numa abordagem multifuncional, o Alqueva combina abastecimento urbano, agricultura e produção energética. Este modelo foi destacado por vários participantes como uma estratégia eficaz que poderia ser replicada noutras regiões.

“Apesar de Portugal dispor de abundância hídrica, a má gestão continua a ser um obstáculo à utilização eficiente e equitativa deste recurso nos diversos setores e regiões do país. É imperativo equilibrar o uso da água com práticas ambientalmente responsáveis, tendo em conta a alteração dos padrões de precipitação e a distribuição desigual das reservas ao longo do território”, declara Hélder Lopes. “Assim, a modernização do regadio, a construção de infraestruturas adequadas e a implementação de uma estratégia nacional inclusiva são passos cruciais para assegurar a sustentabilidade hídrica e promover a resiliência das comunidades”, conclui.