O Governo espanhol, liderado por Pedro Sánchez, está há muito periclitante. E a conjuntura parece ser cada vez menos favorável ao chefe do executivo e restante elite socialista. O caso “Koldo”, que carrega o nome de Koldo García, ex-assessor do ex-ministro dos Transportes José Luis Ábalos, arrasta-se há cerca de um ano, mas o que se sucedeu na última semana pode alterar o rumo dos acontecimentos.
Este polvo de corrupção cujos tentáculos se foram multiplicando, tinha um nome principal que fez toda a operação possível: Víctor Aldama. O empresário espanhol foi detido e preso no passado dia 10 de outubro, com base em acusações de uma fraude fiscal que ascende aos 182 milhões de euros no setor dos hidrocarbonetos em apenas dois anos. O Ministério Público, à data da detenção, publicou a seguinte nota: «A sua atividade num sector legal como o dos hidrocarbonetos, juntamente com os lucros de milhões de euros obtidos em períodos de tempo muito curtos, permite que estas organizações se posicionem em determinadas posições com diferentes esferas de poder, alcançando uma elevada capacidade de corrupção de funcionários públicos».
Liberdade condicional que condiciona
Víctor Aldama deixou do estabelecimento prisional de Soto del Real, em Madrid, onde estava em prisão preventiva, após assumir, de forma voluntária, que foi responsável por pagamentos a altas figuras socialistas no âmbito do caso Koldo. O empresário sai agora em liberdade condicional, com o Ministério Público a considerar que as suas declarações foram verdadeiras e o juíz Santiago Pedráz notou que os motivos que o levaram à prisão «foram muito atenuados», noticiou o jornal espanhol El Mundo. O cabecilha deste enredo confirmou ter pago, em dinheiro, comissões de 250 mil euros e de 100 mil euros a Ábalos e a Koldo García, respetivamente.
Pedro Sánchez sempre se tentou demarcar de Aldama, dizendo que «como este senhor nunca troquei uma palavra», chegando até a afirmar que apenas tinha uma fotografia com o empresário, daquelas que «se tiram com qualquer pessoa». Ao sair da prisão, o empresário lançou avisos ao Presidente do Governo espanhol: «As fotografias que são tiradas com qualquer pessoa são tiradas na rua, não em zonas privadas». «[Sánchez] terá provas de tudo o que foi dito».
O líder espanhol reagiu às declarações de Aldama, dizendo que é tudo «categoricamente falso» e que não passa de «uma grande invenção», procedendo a chamar «personagem» ao empresário. Por sua vez, em entrevista à rádio Cope na quarta-feira, Aldama não poupou nas palavras: «Sou chamado de delinquente por um homem que tem a sua mulher acusada, o seu irmão acusado, o seu segundo chefe de Governo acusado e o seu conselheiro acusado e não se demite. (…) Não sei que mais tenho de provar. (…) Penso que há provas mais que suficientes. (…) O Sr. Rajoy foi alvo de uma moção de censura por 200 mil e poucos euros, que nem sequer tinha que ver com ele, e foi expulso do Governo».
Convém recordar também as diversas vezes em que Pedro Sánchez assinalou a sua virtude, e do seu partido, insistindo em frases como «Sou um político limpo, que dirige um partido limpo» e «Um Governo limpo, sem corrupção».
A retaliação
O PSOE apresenta hoje uma ação judicial contra Aldama pelas declarações que melindram a posição de vários membros de peso do partido. É o caso de Maria Jesús Montero, vice-presidente e do seu chefe de gabinete, Carlos Moreno; Ángel Victor Torres, ministro da Política Territorial; Salvador Illa, Presdiente da Generalitat e até Santos Cerdán, secretário de Organização do Partido Socialista espanhol. Apresentarão, todos, o seu depoimento na Justiça.
Trata-se de um caso de corrupção grave e que assume várias dimensões, melindrando o já frágil Governo “Frankenstein 2.0” – uma geringonça à espanhola – que Pedro Sánchez montou na ressaca da derrota eleitoral de 23 de julho de 2023. Como foi escrito na edição do Nascer do SOL de 3 de maio de 2024, a situação pode ser um trampolim eleitoral para o Partido Popular e para o Vox, mas é, certamente, má para Espanha.