A cópia perde sempre para o original

Nesta ‘sociedade de consumo imediato’, é mais simples e fácil arregimentar com base no ódio e na intolerância.

A dicotomia esquerda e direita, embora continue a sinalizar diferenças cruciais sobre o modelo de sociedade e a mundividência de cada grupo, já não é o principal referencial. Este passou a ser entre as forças moderadas e as forças radicais. E, entre as forças moderadas há aqueles que, cada vez mais, se querem fazer passar por cordeiro, quando na prática são lobo ou escorpião.
Nas últimas semanas isso foi muito evidente com o comportamento do Partido Popular Europeu no Parlamento Europeu.
Em junho último, o PPE, oportunisticamente, procurou os consensos necessários com as famílias democráticas centrais do projeto europeu, como os Socialistas e Democratas, para assegurar a necessária eleição da Presidente da Comissão, Ursula von der Leyen. Volvidos apenas alguns meses, e a propósito da aprovação dos restantes 26 Comissários europeus, alguns de duvidosa capacidade técnica e política, ameaçou romper o acordo a troco de uma indecorosa tentativa de aproveitamento público da catástrofe humana ocorrida em Valência.
Nas audições dos candidatos a Comissários Europeus pudemos assistir a um conjunto de ataques pessoais e gratuitos feitos à vice-presidente executiva designada, a espanhola Teresa Ribera, que contrastaram com os elogios e a defesa que o PPE fez dos comissários nomeados pela extrema-direita.
Há um risco enorme para o projeto de construção europeu quando partidos ditos do centro democrático cedem à agenda populista, nacionalista e antieuropeísta dos extremos. É que rapidamente se perceberá que os primeiros são a cópia e não o original.
Não é à toa que, por exemplo, na Alemanha os dois partidos que mais crescem são da extrema-direita e da extrema-esquerda. Ambos com discursos simplistas que, em matérias relevantes, se tocam e entrecruzam.
Nesta ‘sociedade de consumo imediato’, é mais simples e fácil arregimentar com base no ódio e na intolerância. Como já dizia a música, “e como tudo que é coisa que promete, a gente vê como uma chiclete, que se prova, mastiga e deita fora, sem demora”. Os adversários passam rapidamente a inimigos. A procura do consenso, a construção de uma plataforma comum de diálogo e de respeito pela diferença deixa de existir ou, na melhor das hipóteses, passa, rapidamente, para último plano. É assim que se constroem realidades alternativas: quando, por mero oportunismo, se pinta o mundo como dá jeito a cada momento, e não como efetivamente é: complexo, diverso, confuso, incoerente.