O Matuto gosta de saber da etimologia das coisas. Não é a sua especialidade. É uma curiosidade. Por exemplo, o nome Filipe tem origem no grego antigo “Philippos”. Nome composto de duas partes: “Phílos” que significa “amigo”; e “Híppos” que significa “cavalo”. Portanto, o significado do nome Filipe é “amigo dos cavalos” ou “aquele que ama os cavalos”. O Matuto tem uma apetência emocional desmedida por esta explicação.
Vem isto a propósito do Matuto ler que o poeta Manuel Bandeira vivia intrigadíssimo com o nome dum hotel do Rio de Janeiro: o Península Fernandes. Cada vez que o poeta passava perto do hotel sentia um pequeno alvoroço. Alvoroço que era a asa da poesia. A alma do poeta. Por que será que o hotel se chamava Península Fernandes? Um dia, o poeta não aguentou mais a curiosidade e entrou no hotel, indo pedir explicações ao proprietário. O dono do hotel era um Português muito terra-a-terra, sem nenhum cheiro de literatura no corpo. “Ora” – elucidou o Português – “Fernandes porque é o meu nome e Península porque é bonito”. Simples! Manuel Bandeira terá dito mais tarde que o nome ficou explicado, mas a emoção poética não! O Matuto pensa que a poesia actua de forma inapreendida. Sem bagagem emocional. Numa remoção! É assim que factos comezinhos e corriqueiros da vida mexem com a nossa sensibilidade. Como o significado de certos nomes. Ou as analogias que suscitam. Daí nasce um tipo de colisão poética – matuta o Matuto.
Ainda a propósito, vem o nome de Artur Jorge – treinador do Botafogo, vencedor da Libertadores – outro Português, actualmente muito na berra aqui no Brasil, terra que tão generosamente acolheu o Matuto no seu seio. Naturalmente, o Matuto ouve o nome Artur Jorge e imediatamente faz conexões sinápticas com o rei Artur Jorge, Campeão Europeu em 1987. A mente humana funciona assim: por afinidades – garante o Matuto. O Rei Artur era um senhor do Futebol. O único treinador/filósofo.
O Matuto constata que Nelson Rodrigues, e ainda a propósito, ficava fascinado pelo nome “Varanda”. Nome de família. Também existe no plural: “Varandas”. Dizia Nelson Rodrigues que para o sufocante verão Carioca, não havia nome mais conveniente. É um nome ventilado! E traz a nostalgia das velhas casas com varandas ao correr da fachada inteira.
Vem a propósito também uma cena que o Matuto relembra duma visita recente ao Luxemburgo. Estava o Matuto e a sua gentil esposa, Dona Sirlei, bebericando um café perto da Gare Central em Luxembourge Ville quando Dona Sirlei deseja usar a internet. Fazem-se diligências junto da moça que serve às mesas. É dada a senha: Setúbal. Setúbal? Sim. Oui! Bien sur! O Matuto pergunta porque a senha é o nome duma cidade Portuguesa? A resposta impaciente, veio lépida: “Porque o dono do café é Português!” Simples! E, eis mais uma colisão poética – exclama o Matuto.
Há mais! O Matuto teve recentemente, uma turma com 3 Maria Eduardas. Leram bem. Eram 3 meninas chamadas Maria Eduarda. O Matuto pensou em overdose de Maias. O Eça em grande! Ora, o Matuto já teve uma Margarida na sua sala de Inglês. Naturalmente, a memória afectiva do Matuto foi accionada. Feijão com couves em panelas de barro num lume de chão, o “Oceano Pacífico” a passar na telefonia, pilhas a carregar no sol Alentejano, castanhas piladas, verões azuis de ritmo lento… E a figura bondosa da Vó Guida. Colisões poéticas – pondera o Matuto.