Como seria de esperar, Benfica e Sporting voltaram a demonstrar a sua mediocridade a nível europeu, ainda por cima defrontando adversários que deviam ser levados em conta de acessíveis. Na Bélgica, em Bruges, o Sporting conseguiu a proeza de perder um jogo (1-2) no qual se viu a ganhar desde os minutos iniciais frente a um conjunto belga sem um laivo de qualidade ou de criatividade, entrando no precipício do qual não se vê o fundo de quatro derrotas consecutivas. A vitória por 4-1 frente ao City vai-se dispersando por entre as nuvens dos maus resultados, surgindo como uma espécie de luz na noite escura da realidade na qual vive, agora, a equipa de_João Pereira, desde cedo atirado ao lobos quando o presidente Frederico Varandas resolveu dizer alto e bom som que o jovem técnico iria herdar o melhor Sporting desde o tempo dos Cinco Violinos. De um momento para o outro, a propagada estrutura leonina deixou de existir, ficando quem observa o fenómeno de maneira mais atenta com a certeza de que essa estrutura se aguentava aos ombros de Ruben Amorim. Não interessa a ninguém esconder o sol com uma peneira se a realidade se expõe, macabra como a imagem de um cavalo morto no deserto. É verdade que, ao contrário do Benfica, os leões têm pela frente, nas duas jornadas que faltam, opositores muito menos assustadores do que o seu rival: Red Bull Leipzig (fora) e Bolonha (casa) contra Barcelona (casa) e Juventus (fora). Vamos assumir que os doze pontos dão acesso seguro aos play-offs. E que, com boa vontade, até dez ou onze podem permitir essa qualificação. Uma demonstração inequívoca da falta de competitividade que a_UEFA resolveu estabelecer na Liga dos_Campeões. Ou como se explica que três vitórias e um empate em oito jogos cheguem para promover uma equipa à fase eliminatória? Permitindo-lhe portanto andar a ser enxovalhada em quatro desses oito jogos. É de menos, sinceramente. O futebol cai num retrocesso inadmissível. Qualquer pé rapado sem eira nem beira surge nos dezasseis avos de final._Francamente! É como dar dores de cabeça a uma aspirina. E, assim, de forma envergonhada, os leões marcham no 17.º lugar numa coluna de 36 outros clubes. Sabe a pouco e azeda a boca.
Incapacidade internacional
Não se ficam os benfiquistas a rir dos seus parceiros do outro lado da Segunda Circular. Frente a um Bolonha de trazer por casa, oitavo classificado da Série A e que, em cinco jogos, cometera a fantástica proeza de ter somado apenas um ponto, logo na primeira jornada, em casa, frente ao Shakhtar Donetsk (0-0), perdendo os quatro seguintes marcando apenas um golo – Liverpool (fora, 0-2);_Aston Villa (fora, 0-2); Mónaco (casa, 0-1); Lille (casa, 1-2) –, Bruno Lage voltou a demonstrar a sua inabilidade para confrontos europeus, vendo o seu Benfica completamente dominado durante a primeira parte, e sem qualquer rasgo de imaginação coletiva na segunda que lhe permitisse chegar aos doze pontos e, com eles, o apuramento imediato para os tais play-offs. Também aqueles 4-0 ao_Atlético de Madrid já desapareceram da memória dos mais atentos. Um perfeito acaso num percurso periclitante, cheio de vitórias à Pirro, e interrompido de forma natural por um Bolonha de pé-de-escada._Com os mesmos dez pontos do que o_Sporting, e apenas dois lugares acima na classificação geral por causa da diferença de golos, os encarnados terão de confiar que dez pontos possam servir para abrir as portas da fase a eliminar já que se preveem duas naturalíssimas derrotas contra Barcelona e Juventus, conjuntos de categoria indiscutivelmente superior.
É tempo de não enfiarmos a cabeça na areia como as avestruzes. Os dois representantes portugueses na Liga dos Campeões são de uma menoridade incomodativa. Dois resultados que, como se prova, surgiram absolutamente caídos do céu, podem ter servido para animar os pagodes verdes e vermelhos mas já não enganam ninguém. Não fossem as muito más prestações de Real Madrid, Manchester City e PSG, e o fundo da tabela estaria ainda mais perto. A jornada n.º 6 desta Liga dos Campeões pôs a nu a total falta de capacidade competitiva de Sporting e Benfica, entregues à lei da vontade de dois adversários absolutamente banais. Por mais poeira que quiserem atirar-nos para os olhos, o campeonato nacional atingiu o ponto do ridículo e nenhum campeão português está hoje ao nível sequer dos quartos ou quintos classificados das grandes ligas da Europa, podendo apenas comparar-se aos vencedores das provas dos países do nosso tamanho, como Holanda e Bélgica. É um comboio que saiu há muito da estação na qual continuamos parados, vítimas da incompetência de uma Liga que conseguiu nivelar a qualidade por baixo, tornando os fracos cada vez mais fracos, de tal forma que, graças a triunfos volumosos das fronteiras para dentro, os três grandes insuflam a falsa sensação que são poderosos. Podem sê-lo aqui, nesta espécie de alguidar no qual os turistas vêm molhar os pés, mas de cada vez que têm de defrontar equipas de meia-tijela lá de fora, fazem-nos corar de vergonha. E assim vamos, cantando e rindo.