Desilusões internacionais

As incertezas no Médio Oriente, a guerra na Ucrânia, a França e a Alemanha enfrentando graves crises económicas e tensões sociais, proporcionam o crescimento do populismo.

Perante os novos ciclos na Europa e nos Estados Unidos da América, cujos efeitos se fazem sentir de uma forma global, não se perspetivam tempos memoráveis para a história. A par das incertezas no Médio Oriente e com mais de mil dias de guerra na Ucrânia, num conflito cada vez mais mundial, França e Alemanha, os motores da União Europeia, enfrentam graves crises económicas e tensões sociais, proporcionando o crescimento dos populismos, os denominadores comuns nestes cenários. E a próxima realidade já se tornou visível em diversos fóruns internacionais recentes.
Na última cimeira ibero-americana, realizada no Equador, apenas três dos vinte e dois chefes de Estado que integram esta comunidade marcaram presença, tornando inúteis quaisquer decisões neste relevante espaço.
Para além disso, na COP29, cimeira climática que decorreu no Azerbaijão, quebraram-se princípios e desrespeitaram-se regras de consenso, originando o abandono em protesto de vários representantes e anunciando-se um acordo final pífio, pouco ambicioso e muito longe dos valores de apoio necessários para um verdadeiro combate às alterações climáticas.
E, por fim, na reunião dos G20, ocorrida no Brasil, ninguém saiu convencido que se promoverá uma luta eficaz contra a pobreza ou se tornará a defesa do clima numa real prioridade.
Em todos estes casos, surgiu um efeito prévio aniquilador oriundo da recente eleição de Donald Trump, empurrando deliberações mais assertivas para depois da sua tomada de posse em janeiro, numa subserviência tão constrangedora como surpreendente, inclusive nas declarações de altos responsáveis que mostram expectativas elevadas em relação ao seu futuro mandato.
Que não insistam nessa ilusão. Uma das maiores características de um populista reside na sua transparência, não será diferente e não deslumbrará pela positiva. A Administração Trump, onde os nomes escolhidos não escondem as suas intenções, seguirá orientações económicas desprovidas de valores morais, trilhando apenas caminhos individuais e protecionistas, num exigente teste à Europa.
Em sentido contrário, as notas positivas saíram de Cascais, que acolheu o 10.º Fórum Global da Aliança das Civilizações das Nações Unidas, entidade que promove o diálogo intercultural e inter-religioso, homenageando de forma póstuma Jorge Sampaio, o primeiro alto representante desta aliança, lembrando o seu exemplo decisivo na construção de pontes entre culturas e povos. E de Joe Biden, renascido em final de mandato, com o forte investimento no Corredor do Lobito, em Angola, mostrando um posicionamento estratégico muito interessante em África e num país-irmão da Lusofonia.
A esperança num mundo melhor e mais sustentável passa por estas derradeiras visões. Deverá fazer-se tudo para impedir a imigração ilegal, sendo essa a melhor forma de combater os extremismos, e os líderes mundiais deverão investir mais nas nações africanas para melhorar os padrões de vida na origem.