Querida avó,
Como não podia deixar de ser, devido às celebrações do centenário de nascimento de Mário Soares, este tem sido um tema bastante abordado ao longo dos últimos dias.
Está nas nossas mãos mantê-lo vivo.
É importante que as novas gerações conheçam o trabalho que desenvolveu, o papel que teve na nossa democracia e os valores segundo os quais viveu. Mário Soares está ligado à democracia e é importante que saibam o que é a democracia para que a defendam!
Recordo-o como um homem determinado, e convicto do que queria para as gerações futuras. Com amigos e inimigos nas diversas classes sociais e cores políticas.
Na sessão solene com que o Parlamento assinalou o centenário de nascimento, o Presidente da República disse que «sem ele, não seria possível uma sessão evocativa tão livre como a de hoje». Concordo plenamente.
Foi um político muito sério, mas cheio de humor. Existem inúmeras situações cómicas que recordamos e que o comprovam. Apesar de tudo o que passou, era um otimista e acreditava que era possível mudar o país. E mudou, para melhor!
Uma vida muitíssimo inspiradora desde muito cedo.
Mário Soares nunca vai ser esquecido como figura que dedicou a vida a lutar pela liberdade, pela democracia. Portugal era um país atrasado, isolado, com uma ditadura que mandava em tudo, uma censura que impedia as pessoas de darem as suas opiniões, de falarem, de escreverem se discordassem do Governo. Isso não podia continuar! E Mário Soares, desde a juventude, entregou-se à dura luta de libertar o país. Doze vezes foi preso, foi deportado, exilado. Mas sem gente como ele não teria havido o 25 de Abril, não terminaria a guerra colonial, não faríamos parte da comunidade europeia.
Este foi (parte do) legado que nos deixou. Como seria triste e difícil a vida das crianças, jovens e velhos, de hoje se Mário Soares não tivesse existido! Obrigado.
Bjs
Querido neto,
No que depender de mim, o Mário Soares (e a Maria Barroso) nunca irão desaparecer, das memórias de todos nós.
Se vivemos democraticamente, muito se deve ao trabalho de Mário Soares. Devido às celebrações do centenário do seu nascimento, certamente voltaremos a falar desta personalidade Inesquecível.
Hoje preciso partilhar contigo outro assunto!
Falava eu aqui na semana passada, de amigos, mesmo muito amigos que, de repente, tinham desaparecido sem deixar rasto.
Pasma-te, não é que apareceram??!
Há dias, o meu telemóvel toca. O nome é de um amigo com quem raramente falo. Apetece-me não atender, mas lá atendo, preparada para dizer «desculpa, mas estou mesmo a sair, ligo-te depois» – quando, do lado de lá, ouço a voz inconfundível da minha amiga Paula, «olá, tudo bem?». Como se tivesse falado comigo na véspera…
Eu nem queria acreditar.
Mas era ela mesmo: a voz de sempre, muito calma, muito pausada.
A explicação desta enorme ausência era, segundo ela, muito simples: viviam agora muito longe de Lisboa, não usam «essas coisas parvas das novas tecnologias» (Facebook, Instagram, etc…) .
Só mesmo o telemóvel.
Mas esse um dia avariou e foi preciso arranjar outro – com a consequente perda de uma data de números. Entre eles, evidentemente, o meu.
E assim aconteceu um isolamento de anos! Tantos que, entretanto, a filha já está casada, e eles já têm três netos, imagina!!
Parece então que um dia conheceram alguém que me conhecia – e era através do telemóvel dele que me estavam a ligar.
Estamos mesmo dependentes das novas tecnologias!
Agora – pelo sim, pelo não – ligo-lhe todos os dias, (claro que já adicionaram o meu número aos seus contactos…) para ver se ela me atende, e continuamos a (tentar..) pôr a escrita em dia – porque as notícias destes anos todos de silêncio não cabem numa ou duas chamadas.
Fica bem – e liga aos teus amigos!
Bjs