A notícia tem duas leituras possíveis no imediato, mas existe uma terceira, talvez a mais pertinente. Foi noticiado que a cadeia de Coimbra, através de um telefonema anónimo, descobriu que elementos do Primeiro Comando Capital (PCC) – a máfia brasileira – se preparavam para dizer adeus aos seus ‘aposentos’. «Não chegou a acontecer a tentativa de evasão porque nós detetámos, através do sistema de informação e segurança, que funcionou, que havia seis indivíduos que pertencem ao Primeiro Comando Capital (PCC) do Brasil, que estão lá presos, que iriam [no sábado] tentar fugir da cadeia de Coimbra», segundo contou, à Lusa, Frederico Morais, presidente do Sindicato do Corpo da Guarda Prisional. O mesmo dirigente acrescentou que foram mobilizados 30 guardas prisionais que estavam de folga ou de férias, tendo também sido destacada uma equipa do Grupo de Intervenção e Segurança Prisional (GISP), «procedimento proposto por análise de acontecimento pela Direção de Serviços de Segurança e exclusivamente autorizado pelo diretor-geral da DGRSP».
O Governo, pelos vistos, achou a história meio hilariante, e a Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP) emitiu um comunicado onde concluía que é falso que «a alegada fuga tenha sido detetada ou impedida pelos guardas prisionais; Que todos os reclusos em causa pertençam ao Primeiro Comando Capital (PCC) do Brasil; Que tenha havido qualquer intervenção dos Serviço de Informações e Segurança (SIS)». A DGRSP acrescentava ainda que «está em curso o apuramento de eventuais responsabilidades (disciplinares ou criminais) sobre os factos causadores do alarme social e da perturbação no funcionamento do Estabelecimento Prisional de Coimbra».
Como é óbvio, para quem leia atentamente o comunicado, a DGRSP diz aquilo que não queria dizer, pois se afirma que é falso «que todos os reclusos em causa pertençam ao PCC do Brasil», é porque, de facto, existe um grupo de reclusos que queria fugir.
Mas vamos agora à terceira leitura, que não anula as duas anteriores – só um burro com ideias próprias é que pode achar isso. O que este acontecimento veio pôr a nu é que o sistema prisional português vive no passado e acha que os ‘bandidos’, usando uma linguagem da imprensa brasileira, estão interessados na reinserção social. Nas cadeias portuguesas não faltam criminosos internacionais perigosos, que tudo farão para fugir das prisões para continuarem a cometer crimes. Qualquer elemento do PCC que o consiga, passa automaticamente a ser considerado herói pela cúpula da organização. Da mesma forma que um doente sonha ter alta do hospital, um prisioneiro afeto às máfias internacionais sonha com a fuga. E as prisões portuguesas não estão preparadas para este novo fenómeno e é bom que alguém acorde para a nova realidade. Vamos imaginar que os supostos ‘fugitivos’ conseguiam sair da cadeia, misturando-se de imediato com a população de Coimbra. Como seriam descobertos? E se houvesse tiros? Faz algum sentido nos dias de hoje existirem cadeias no centro de cidades? Parece-me que não.
As cadeias são o fim da linha da criminalidade, supostamente quem comete crimes ‘paga’ com estadas na prisão. Mas se defendo que os novos tempos exigem novas medidas para o funcionamento das cadeias, também acho que, nesta nova realidade da globalização, será necessário repensar a célebre história de que é preferível ‘deixar’ 100 culpados à solta do que incriminar um inocente. Os inocentes têm sempre de ser defendidos, ninguém pode pagar pelo que não fez, mas não podemos continuar a ‘permitir’ que os 100 culpados continuem à solta. Não vá espalhar-se pelo mundo fora que em Portugal as cadeias não têm paredes ou que as penas são coisas para ‘meninos’. Quem quiser ver o problema pelo prisma ideológico continuará a caminhar em direção ao abismo…
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