Natal: a fé(sta)

O mundo grita enquanto o calendário diz que a época é de festas. Que os sonhos sejam devorados por estes dias, mas alimentados todo o ano.

O mundo continua a gritar através de ciclones, terramotos e incêndios. E essencialmente através das guerras. Neste mesmo mundo o calendário lembra-nos que a época é de festas.
Talvez o preço do bacalhau sirva para reforçar o valor da partilha.
Que na aletria o mais importante é trocar o t pelo g.
Que os pratos à mesa sejam o elemento principal, a mostrar a união.
Que a importância dos ideais do Natal não seja como o bolo-rei, cheio de protagonismo efémero.
Que a igualdade vá além do bolo-rainha ao lado do rei de frutas cristalizadas.
A lógica é de tal ordem que se escangalhou também em forma de bolo.
Que os sonhos sejam devorados por estes dias, mas alimentados todo o ano.
Que o cabrito permaneça sem que os vinhos e os espumantes lhe alterem o estatuto para macho da cabra fora das datas festivas.
Que as luzes de Natal sirvam para iluminar além dos troncos de chocolate e do pão-de-ló.
O mundo continua a gritar, mas a época é de festas.
Corre-se de um centro comercial para o outro enquanto os sites e as aplicações online avisam que as encomendas pretendidas já não vão chegar a tempo da noite de 24 de dezembro.
Contam-se os dias para o Natal pelos dedos de uma mão e para o último dia do ano com os das duas.
Quando chega a altura das passas lembramo-nos novamente que o mundo está a gritar, embora o relógio ainda dê margem para continuar o programa das festas.
Até voltarmos a acordar para um mundo que não pára de gritar. E onde resta apenas a fé das fe(stas).