Canadá: reversão das tendências enfraquece Justin Trudeau

Num mundo que está em constante mudança, as tendências políticas não são uma exceção à regra. Justin Trudeau é um dos grandes perdedores da conjuntura atual, apresentando números extremamente baixos nas sondagens e com uma crise dentro do próprio Governo.

Num artigo recente para o jornal digital The Free Press intitulado “A mudança de vibe torna-se global”, o historiador Niall Ferguson identifica um fenómeno que tem redesenhado a arquitetura política internacional. «A mudança de vibe», aponta o escocês, «passou do mundo dos fashionistas para o mundo dos almirantes de quatro estrelas, através dos tech bros e da campanha Trump-Musk. Começou como uma repulsa contra pronomes e piercings; está a culminar num repúdio global da ordem liberal internacional que inspirou duas gerações de democratas».
Esta alteração é visível por toda a parte. A direita, e a extrema-direita, estão a todo o gás das Américas à Europa, e a eleição de Donald Trump foi a confirmação da reversão da tendência que tem pairado na política mundial.
Como seria de esperar, o Canadá, vizinho dos Estados Unidos, na pessoa do seu líder Justin Trudeau, também foi afetado. Trudeau é primeiro-ministro desde novembro de 2015 e é um dos líderes mundiais que embarcou na tendência woke com mais entusiasmo. Por isto, o novo ambiente político que Ferguson refere não lhe é, de todo, benéfico. E as sondagens comprovam isso mesmo.

Sondagens pouco animadoras
O Canadá vai a eleições em novembro do próximo ano, e as projeções não são nada animadoras para o Partido Liberal. Segundo o mais recente inquérito da CBCNews, prevê-se uma vitória esmagadora dos Conservadores liderados por Pierre Poilievre, que aparecem destacados com 43% nas intenções de voto. Os liberais vêm em segundo com apenas 22%, seguidos de perto pelos sociais-democratas do New Democratic Party.
Desta forma, os Conservadores arrecadariam 218 assentos no parlamento, 46 a mais que o necessário para atingir uma maioria, enquanto os liberais se ficariam pelos 50, menos 103 dos que possuem ao dia de hoje. É uma projeção esmagadora para Trudeau e acaba por sê-lo também para o seu ideário, que parece ser amplamente rejeitado um pouco por toda a parte.
E a eleição de Donald Trump é evidentemente mais uma pedra no sapato. No dia 25 de novembro, Donald Trump ameaçou a imposição de uma tarifa às importações de produtos canadianos e mexicanos na ordem dos 25% devido aos problemas associados aos imigrantes ilegais e ao fentanil, o que levou o primeiro-ministro do Canadá a viajar até Mar-a-Lago, a residência do Presidente-eleito dos EUA. O ainda líder do Canadá, disse que «na verdade, ele não estaria apenas a prejudicar os canadianos que trabalham tão bem com os Estados Unidos. Estaria também a aumentar os preços para os cidadãos americanos e a prejudicar a indústria e as empresas americanas».
Apesar de Trudeau ter agradecido ao ex (e futuro) Presidente pelo jantar e de se ter mostrado «ansioso pelo trabalho» que podem desenvolver juntos «de novo», parece que Trump encarou o encontro mais como uma ação de escárnio do que propriamente uma reunião de alto nível. A Fox News confirmou que Donald Trump propôs a Justin Trudeau que o Canadá se tornasse no 51.º Estado dos EUA, procedendo a chamar-lhe «Governador Trudeau» nas suas mais recentes publicações nas redes sociais. É de relembrar que o próximo Presidente americano já tinha apelidado o chefe do executivo canadiano de «lunático de extrema-esquerda», acusando-o também de ter «duas caras».

A implosão
Não é apenas a conjuntura internacional que não sopra a favor de Trudeau, que recentemente entrou em conflito com a sua própria ministra das Finanças, Chrystia Freeland, sobre o feriado fiscal que o executivo anunciou recentemente.
A medida prevê a isenção fiscal durante dois meses sobre as vendas e sobre os cheques de 250 dólares canadianos. A ministra demonstrou publicamente a sua insatisfação, chamando «artifício político dispendioso» ao processo, o qual Freeland considera irrealista tendo em conta as tarifas de 25% anunciadas por Trump.
Na sequência da discórdia, a responsável pela pasta das Finanças apresentou a sua demissão: «O nosso país está a enfrentar um grave desafio. Isso significa manter a nossa pólvora fiscal seca hoje, para que tenhamos as reservas de que podemos precisar para uma guerra tarifária que se aproxima», pode ler-se na carta.
Este episódio colocou o Governo de Trudeau a tremer, tendo sido instado a demitir-se por toda a oposição e até por membros do seu próprio partido. Poilievre, que tem aproveitado a onda e goza de uma popularidade assinalável, afirma que o país chegou ao limite: «Tudo está a ficar fora de controlo. Não podemos simplesmente continuar assim».
Posto isto, Justin Trudeau parece ser dos líderes mais afetados por esta «mudança de vibe global» referida por Niall Ferguson, num momento em que, um pouco por toda a parte, salvo raras exceções, a maioria da população começa a demonstrar a sua rejeição face a este conjunto de políticas woke.