A rusga policial na Rua do Benformoso, no Martim Moniz, em Lisboa, indignou muito boa gente, falando-se em racismo, até pela força da imagem escolhida que encheu as redes sociais e as televisões: cidadãos do Bangladesh e da Índia, entre outros, encostados à parede para serem revistados. Houve quem tivesse alegado que isso jamais aconteceria em zonas nobres da cidade, e que o objetivo da ação policial teve motivações políticas. Em primeiro lugar, só quem não sabe o que é uma rusga é que pode ficar indignado com o facto de as pessoas serem encostadas à parede. Assisti a muitas, algumas efetuadas pela PSP e outras pela PJ. Nessas operações havia tudo menos carinho, pois as polícias procuravam encontrar as substância ilícitas que por ali se vendiam e se não encostassem todos à parede muita da erva ou haxixe desaparecia no chão. Também quando fiz uma reportagem com a polícia portuguesa, que estava acompanhada da italiana, num jogo do Benfica com o ACMilan, fiquei impressionado com a dureza dos italianos. Os adeptos que estavam sob suspeita de transportarem objetos contundentes ou material pirotécnico eram ‘atirados’ contra a parede e depois eram devidamente revistados. Sempre foi assim e sempre será assim.
Mas no caso do Martim Moniz, o que chocou as mentes mais sensíveis foi o facto de os ‘revistados’ serem todos do continente asiático, como se agora para se realizarem rusgas fosse preciso ver a paridade entre caucasianos, negros, asiáticos e por aí fora. Aquela zona do Martim Moniz é das que estão referenciadas como problemáticas e o próprio presidente da junta de freguesia de Santa Maria Maior, que engloba Alfama, Baixa, Castelo, Chiado, Mouraria e Sé, tinha dado um grito de alerta em julho por causa do aumento da insegurança, devido aos assaltos, ao tráfico e consumo de drogas, e até tentativas de homicídio.
Diz-se que o resultado final da operação pariu um rato, mas poucos destacam que dois dos detidos ficaram em prisão preventiva, o que em Portugal é raro, como se sabe.
Indo diretamente à polémica: a Mouraria tem problemas complexos de segurança e até é possível que a Rua do Benformoso não seja a pior, mas é das piores. Cabe à Polícia mostrar a uma comunidade que tem outros costumes, que naquela zona ou em qualquer outra de Portugal, não há territórios sem lei. Dir-se-á que a maioria dos cidadãos são pessoas honestas, o que não duvido um segundo, da mesma forma que também não tenho dúvidas de que a Mouraria, à semelhança de outros locais, se debate com um fenómeno de aumento de tráfico e de consumo de droga, que envolve já muitos cidadãos estrangeiros. E sejamos honestos, todos – e aqui falo de polícias, políticos locais e de quem estuda o fenómeno – sabem perfeitamente que há duas comunidades que estão a cometer crimes violentos, acabando os do Bangladesh e do Nepal, por exemplo, além dos portugueses, por ser vítimas desses assaltos. Passa-se isso em Lisboa como no Porto.
Não perceber que a Polícia tem o dever e a obrigação de fazer ações musculadas é não perceber nada de segurança. As dezenas de rusgas que assisti na minha adolescência tinham o propósito de combater o tráfico de haxixe e de erva. Estas pretendem mostrar que ainda existe lei em Portugal – apesar de não se ter visto uma única mulher na rua…
P. S. Ah! Há quem diga que só o asiáticos é que são encostados à parede. Vão ver os arquivos das televisões e vejam a rusga nas discotecas no Cais do Sodré, em 2022, onde os portugueses e turistas brancos foram encostados à parede e revistados um de cada vez, não escapou ninguém.
P. S. 2. Uma destas noites em que se discutia a operação policial, teve um momento verdadeiramente hilariante quando um advogado da nossa praça afirmou que, nesse dia, os roubos dos carteiristas no Rossio tinham sido o dobro, devido aos agentes estarem todos no Martim Moniz… Há com cada um!