Autarcas em fim de ciclo

O ano de 2025 marca uma viragem no poder local, com mais de um terço dos presidentes de câmara impedidos de se recandidatar devido à lei de limitação de mandatos. Enquanto autarcas de longa data encerram os seus ciclos, com o Rui Moreira no Porto, os ‘dinossauros’ preparam-se para voltar à corrida eleitoral.

O ano de 2025 marca um ponto de transição no panorama autárquico português. Com o fim do mandato para muitos autarcas devido à lei de limitação de mandatos – que impede a permanência consecutiva por mais de três ciclos no mesmo cargo – diversas câmaras municipais enfrentam uma redefinição de lideranças. Um dos casos mais mais emblemáticos é o de Rui Moreira no Porto no Porto e Ricardo Rio, em Braga.


No total, mais de um terço dos 308 presidentes de câmara estão impedidos de se recandidatar nas próximas eleições autárquicas, sendo a maior parte de municípios socialistas.


Só o PS tem mais de 50 autarcas em fim de ciclo, o PSD mais de 30, a CDU tem 12 dos seus 19 presidentes, o CDS três (de seis municípios), um é o único presidente do Juntos Pelo Povo (JPP), Filipe Sousa, autarca em Santa Cruz, na Madeira, e cinco são independentes, entre os quais Rui Moreira.
O número de autarcas em fim de ciclo era maior, mas muitos foram deixando os cargos, como o ex-presidente da Câmara de Santarém, Ricardo Gonçalves (PSD), que suspendeu o mandato a 30 de agosto para assumir a presidência do Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) e Benjamim Pereira (PSD), antigo presidente da Câmara de Esposende, que também suspendeu o mandato, no início de setembro, para presidir ao Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana.


Nas europeias, Hélder Sousa (PSD), Carla Tavares (PS) e Isilda Gomes (PS) foram eleitos eurodeputados e deixaram a presidência das câmaras de Mafra e Amadora (Lisboa) e Portimão, respetivamente.


Com fim do terceiro mandato de grandes nomes ‘socialistas’ – como Basílio Horta (Sintra), Eduardo Vítor Rodrigues (Vila Nova de Gaia) e Rui Santos (Vila Real) – e de sociais-democratas – como Carlos Carreiras (Cascais), Ricardo Rio (Braga) e José Ribau Esteves (Aveiro) – baralham-se as contas e aumentam as dúvidas nos principais confrontos entre o PSD e o PS nas próximas autárquicas.

PCP com câmaras em risco
Ainda assim, feitas as contas, são os comunistas quem tem mais câmaras em ‘risco’ (cerca de 58%), seguindo-se o CDS (com 50%), depois o PSD (acima de 39%) e no final o PS (mais de 36%).


Desde 2017, o PCP já perdeu 15 câmaras municipais. Nestas eleições autárquicas o objetivo é manter as 19 que restam, mas também (re) conquistar outras, como Loures ou Moita (Setúbal).


Só em 2021, a CDU perdeu sete autarquias. A derrota em Vila Viçosa acabou com a liderança historicamente comunista no município, mas o partido saiu ainda derrotado em três bastiões onde nunca tinha perdido: Moita, Mora e Montemor-o-Novo.


Em 2025, corre o risco de o mapa ficar ainda menos vermelho. Os comunistas têm autarcas em fim de ciclo em pelo menos três bastiões, onde a CDU perdeu votos nas últimas eleições: Arraiolos, Avis e Palmela.


Na lista dos autarcas que entram no terceiro e último mandato consecutivo, o PCP terá ainda de arranjar substitutos para os presidentes de Benavente, Évora, Silves, Cuba, Sobral do Monte Agraço, Monforte, Grândola e Alcácer do Sal (o único destes municípios onde a CDU não perdeu votos em 2021).