Domingo, em Alvalade, pelas 20h30, estaremos provavelmente perante um dos mais pobres derbies de sempre, se nos ativermos apenas àquilo que cada equipa joga, e um facto incontornável é o de tanto Sporting como Benfica se andarem a exibir angustiadamente mal. Dir-me-ão que derby é derby, e que a simples e centenária rivalidade pode provocar surpresas de tal envergadura que manteriam hipopótamos de bocas escancaradas de espanto por dias a fio. Nunca fui de acreditar em milagres e muito menos em reencarnações. Não estou bem a ver como fazer com que a mediocridade do futebol de ambos se esfume com a brisa do final de tarde. Convenhamos que o que temos vindo a assistir é a mais profunda degradação do futebol português, posta inicialmente em prática pelo atual presidente da Liga de Clubes que não cumpriu uma única promessa feita em relação ao que seria a elevação do ritmo competitivo do campeonato nacional. Assiste-se a um nivelamento por baixo que se pode classificar como aflitivo. O anúncio de que deixaria de haver jogos à noite às segundas-feiras foi cuspido para dentro do cesto dos papéis. A intenção de ter cada vez mais encontros a meio da tarde nunca foi para levar a sério. Ou pelo menos só é levada a sério por aqueles que, numa atitude néscia, correm a apoiar Proença para o cargo mais alto da Federação Portuguesa de Futebol. Fica a satisfação mínima de o ver deixar definitivamente pôr as mãos na organização do futebol profissional na qual firmou a marca indelével da sua incompetência.
Derby do medo
Seria de perguntar, agora que o Inverno se instalou e as noites são frias como as neves das montanhas doPamir, por que é que o Sporting-Benfica não tem lugar às quatro da tarde, por exemplo, em vez de ser empurrado disparatadamente para a noite, ainda por cima noite anterior a um dia de trabalho para a grande maioria de espetadores que se deslocarão a Alvalade? Pergunta que cai em saco roto, obviamente. Não que isso se vá refletir gravemente na atuação de qualquer das equipas. Com treinador novo, Rui Borges, já a trabalhar um bocado em cima do arame, a apenas quatro dias do derby, o afastamento de JoãoPereira mostrou à saciedade como a tão apregoada estrutura do Sporting não passava de um castelo de areia construído na cabeça do seu presidente. Na verdade, a estrutura doSporting tinha um nome e só um nome, o de Ruben Amorim, e a saída deste para o United arrasou por completo um conjunto inventado por si. A opinião é minha, e vale o que vale, mas depois de ter, segundo as suas palavras, dado a João Pereira um «presente envenenado» Frederico Varandas, que segundo se percebe já deixou de acreditar na tal estrutura capaz de elevar este Sporting ao patamar dos CincoViolinos, volta a entregar um presente envenenado a Rui Borges: em caso de derrota no domingo, o novo técnico começa as suas funções com um ferro em brasa nas costas.
Vale a Rui Borges que não é preciso nenhum toque de mágica para vencer um Benfica que ocupa o primeiro lugar sem saber ler nem escrever, todas as semanas mergulhado em exibições confusas e demasiado pobres para um líder, mesmo deste campeonato de pacotilha. Bruno Lage é um moço educado e que suscita simpatia. Mas parece sempre triste como Sísifo a carregar o pedregulho pela montanha acima. Essa tristeza consome a equipa. Tristeza e medo, porque é, na verdade, um treinador do medo e não será de admirar que surja em Alvalade com uma técnica à moda de Munique, com três centrais, três trincos e Di María à boa-vai-ela. Assentemos que neste momento, em que Sporting e Benfica se exibem de forma a apavorar uma matilha de samoiedos, o empate não deixaria de ser simpático, tanto para o primeiro como para o segundo, mesmo que tal signifique entregar o primeiro lugar ao FCPorto que silenciosamente (e apupado por um grupo de adeptos que não se libertaram ainda do jugo do outro senhor) corre por fora, à espera dos desleixos dos seus dois parceiro na luta pelo título.
Pois cá estamos nós na semana de um derby que pouco promete e pouco cativa, entre uma equipa física e psicologicamente desfeita, para a qual cada jogo parece ser um sacrifício insuportável, e uma outra que de equipa tem mesmo muito pouco e vive sobretudo dos lances individuais, sem um fio de jogo que demonstre o trabalho que se anda a fazer noSeixal e, ainda por cima, cometendo erros defensivos atrás de erros defensivos de deixar os seus apaniguados de cabelos em pé. Claro que Lage tem o seu lugar garantido até ao final da época, nem sequer fazia sentido que oBenfica entrasse pelo caminho do Sporting que já vai no seu terceiro treinador de agosto até cá. As contas far-se-ão no fim, mas pelo caminho continuaremos a ser sujeitos a jogos e jogos de uma mediocridade insuportável. É esta a realidade da nossa prova mais importante e não vejo que o futuro traga algo de novo. Por isso, este Sporting-Benfica é um dos menos entusiasmantes de uma história tão, tão antiga, e tem tudo para ser o mais entediante de todos os tempos…