Libertou-se o sabor dos velhos Jesuítas

O Tirsense, agora chegado aos quartos de final da Taça de Portugal, faz 87 anos.

Por via da Taça de Portugal, o Tirsense está de novo na companhia dos grandes do futebol português. Presente nos quartos de final da prova, garante um lugar entre as oito melhores equipas da segunda mais importante competição nacional. É verdade que, até aqui chegar, não teve de causar escândalos. Vitórias sobre o Vieira (2-0), Caldas (fora, 2-1), Brito (1-0) e Rebordosa (1-0). Mas isso não invalida a merecida festa dos comandados pelo antigo internacional português, Luís Norton de Matos. E, para os que ainda se lembram do Tirsense na I Divisão é como sentir o sabor dos velhos Jesuítas.

Duplamente em festa os adeptos de Santo Tirso, essa cidade que tem a curiosidade de se situar precisamente à mesma distância de Braga, Guimarães, Póvoa de Varzim, Vila do Conde e Porto (20 km). E duplamente em festa porque o clube, de seu nome completo Futebol Clube Tirsense (que veio substituir o nome anterior – Ponte Velha Sport Club) vai cumprir o seu 87.º aniversário, este domingo, 5 de janeiro.

Recordo-me com saudade dos tempos em que os redatores da velha A_Bola largavam a redacção aos bandos, cada domingo, para caminharem para todos os campos do país onde decorriam os jogos da I e da II Divisão. Ir a Santo Tirso era sempre agradável. Porque os adeptos eram renhidos como poucos e faziam questão de lotar o Estádio Abel Alves de Figueiredo que tem capacidade para dez mil pessoas. Nos primeiros onze anos da sua existência, o Tirsense teve de se aguentar, por vezes muito tem-te não caias, nos Campeonatos Distritais da AF_Porto. Em 1949-50 sobre pela primeira vez à II_Divisão. Ganhava aí o seu estandarte de clube de nível nacional.

A I Divisão

Os Jesuítas, nome do doce mais tradicional da cidade, um folhado de forma triangular que tem o seu ex-líbris na famosa e centenária Casa Moura, que adotaram essa designação, mantiveram-se na II_Divisão durante dez anos. 1966-67 seria uma das épocas mais extraordinárias da vida do Tirsense. Atingiram a I Divisão, nessa altura composta por catorze clubes. A tão ansiada estreia foi no dia 10 de Setembro, em casa, frente à Académica. A equipa alinhou assim: David; Amândio Gonçalves, Viana, Luís Pinto e Sebastião; Carlos Manuel, Cristóvão e Virgílio; Ferreirinha, Silva e Naftali. O problema era que a Académica tinha uma equipa espantosa, que ficara em segundo lugar na época anterior e garantiria o quarto lugar nesse ano. O Tirsense aguentou-se como pôde. A imprensa da época destacou a valentia dos tirsenses que chegaram ao intervalo com o magnífico empate de zero-zero. Depois, aos três minutos da segunda parte, Artur Jorge tabelou com Crispim e fez o 0-1. Desgastados, os Jesuítas acabaram por desfazer a sua teia defensiva. Fernando Ferreira (conhecido por Ferreirinha), o treinador, não conseguiu estancar a força imponente do ataque dos estudantes. Dez minutos mais tarde, Mário Campos marcou o 0-2 e, aos 53 e aos 86’, Artur Jorge completou o hat-trick, assinando o 0-3 e o 0-4. A empreitada foi dura, o Tirsense acabaria a prova em décimo terceiro, com quinze pontos, apenas com o Barreirense abaixo, com dez, e relegado para a II_Divisão de onde acabara de chegar. Mas, entretanto, apenas oito dias mais tarde, o Tirsense cometeu a proeza de ir a Alvalade e sair de lá com um empate frente ao_Sporting (0-0). O espírito de luta não se punha em causa. Infelizmente para a equipa, um excesso tremendo de derrotas caseiras deitou tudo a perder. Foram nada menos de sete:_Académica (0-4), Sporting (3-5), FC_Porto (1-3), V. Guimarães (1-2), Belenenses (0-6), Braga (0-1) e Sanjoanense (0-1). Registe-se o empate no Abel Alves de Figueiredo frente ao_Benfica, que viria a ser campeão (0-0) e o empate no_Restelo, face ao Belenenses (0-0). Pela negativa a goleada duríssima nas Antas (0-9) e outras duas na Luz (0-5) e no Alfredo da Silva, contra a CUF (0-5).

A queda e o sonho

Em 1970/71, o Tirsense regressou à I Divisão. Realizou uma prova tranquila, ficou em 9.º e manteve-se na época seguinte, essa sim desastrosa, com um 16.º e último lugar. A queda foi tão bruta que, logo depois, o clube foi dar com os costados na III. Teimosos, os Jesuítas, em 1994/95 estavam entre os grandes outra vez. E para assinar a sua melhor presença de sempre, oitavos num campeonato com dezoito clubes. Certinho como um relógio suíço, obteve treze vitórias, seis empates e treze derrotas, com uma diferença de golos de 35-34 e trinta e quatro pontos. A equipa tinha vários jogadores experientes e de qualidade, como Paredão, Cabral, Tozé (o capitão dos campeões do mundo de juniores na Arábia Saudita), Giovanella, Caetano, Folha e Marcelo.

Tudo parecia ter entrado nos eixos, o grande sonho dos adeptos ia concretizar-se, o Tirsense exibia galões de clube preparado para viver entre os maiores. O sonho desfez-se um ano mais tarde. Uma dura crise financeira instalou-se durante anos a fio. A época de 1995-96 foi a última dos Jesuítas na divisão principal. Foi 18.º entre 18 clubes. Finalmente podemos recordá-lo por outros bons motivos. Veremos até onde irá nesta Taça de Portugal.