No rescaldo da agora famosa operação da PSP na Rua do Benformoso, ‘pensadores’ como Ana Gomes ou o antigo presidente do Parlamento Ferro Rodrigues, cuja extrema sensibilidade o deixou em ‘estado de choque’, deram-nos as suas opiniões, em forma de poeirada de palavras, sobre o acontecido. Xenofobia, Imigração, Racismo ou Multiculturalismo foram alguns dos temas tocados não só pelos dois socialistas, mas ainda por um molhe de outras luminárias políticas e mediáticas. Tudo isto fez-me recuar alguns anos quando, na berlinense Unter den Linden, antes de entrar no café Einstein, deparei com uma manifestação de extrema esquerda, onde se destacava o cartaz ‘Auslander, verteidigen uns von die deutschen’ (‘Estrangeiros, defendam-nos dos alemães’). Achei a ideia não só retorcida, mas torta mesmo. Era o negativo do cliché racista. Um perfeito exemplo de xenófilos doentes que por isso mesmo se tornam xenófobos contra o seu próprio povo.
Da xenofilia ao ativismo antirracista é um passo. Os profissionais do anti-racismo, além de intelectualmente desonestos por recusarem quer a existência do ‘racismo inverso’ quer o sábio conselho de Camões «não meças o passado pelo presente», não passam de uma mistura de cínicos caçadores de subsídios e de ingénuos do racismo inconsciente. Ao desculpabilizarem continuamente negros e orientais – o que boa parte dos visados desdenha e dispensa – tratam-nos como crianças a quem tudo se tolera e desculpa. Tiram-lhes a dignidade. Praticam os pecados da tolerância exagerada: a desresponsabilização e consequente infantilização. Infantis e irresponsáveis, segundo os anti-racistas, que assim, inconsciente e ironicamente, reproduzem o modo como os mesmos eram considerados pelo racismo frontal dos boers ou dos brancos do Mississippi e da Georgia que tratavam qualquer ‘older nigger’ por ‘boy’. E que dizer do nosso dito ‘racismo sistémico’? Racismo há, como sempre houve, aliás, como em todo o mundo e nos dois sentidos, mas ‘sistémico’ não é. Basta recordar que já o ‘racismo imperial’ português, embora duríssimo, era mais humanizado do que os demais. Uma prova definitiva foi a miscigenação incentivada por Afonso de Albuquerque na Índia; e um pequeno, mas bem expressivo, exemplo pode ser o do grande Samora Machel ao afirmar que «os russos tratam-nos como macacos, os colonos ao menos tratavam-nos como pretos!».
Menendez Pelayo considerava a tolerância «uma virtude fácil (…) Enfermidade das épocas de cepticismo e fé extinta (…) Um eunuquismo do pensamento». Há um tipo de tolerância tão ‘enferma’ que chega à deferência se não mesmo ao servilismo, como se viu no naipe de esquerdistas louvaminhas oferecendo cravos no Benformoso. Da tolerância excessiva ao multiculturalismo, a passada é curta. O multiculturalismo, que tem perdido aderentes a grande velocidade, luta, através da universidade e dos média afectos, pela criação de nações arco-íris através, nomeadamente, do ataque às culturas nacionais. Quanto ao arco-íris, basta atentarmos no subliminar dos anúncios de camas e colchões e nos anúncios do tipo ‘We are the world we are the children’. No que tange à guerra mansa contra as culturas nacionais – as ‘Leitkulturen’–, tentando nivelá-las pelas culturas minoritárias – as ‘Nebenkulturen’–, foi exemplar o ataque, pelo esquecimento, a Camões nas comemorações dos seus 500 anos. Acresce que a historiografia e a literatura divulgadas pelos meios multiculturalistas, comprometidas que são, pouco mais valem do que ideologia com decoração interior.
Nesta Europa ainda dominada pelo pensamento único fundado na ‘Marktkonforme Democratie’ de Angela Merkel, que junta elites de esquerda e de direita, e pela poderosa idiotia do wokeness, entretanto em marcha atrás no norte europeu e em processo de falência nos EUA, se não nos defendermos, com a remigração controlada, da imigração descontrolada, acabaremos numa guerra civil de marca racial ou como bárbaros a sobreviver entre os restos do que fora a melhor das civilizações.
A Rua do Benformoso e o Pensamento Torto
Racismo há, como sempre houve, aliás, como em todo o mundo e nos dois sentidos, mas ‘sistémico’ não é