O Matuto aprecia o teatro. O teatro como expressão artística e cultural, naturalmente. Ora, o Matuto sabe de fonte segura que a gente do teatro dá muita bola para superstições. Vai daí, surgiram expressões meio contraditórias como “break a leg” (“muita merda” no equivalente Português), onde a ideia é trocar a volta aos “maus espíritos” que habitam todas as casas teatrais. Desejar “sorte” cria inveja nos espíritos cafajestes que moram no teatro. Assim, aspirar a algo de negativo distrai os fantasmas teátricos.
Foi com renovado interesse que o Matuto leu acerca da maldição que paira sobre a peça Macbeth, de Shakespeare. Diz-se que a sua estreia em 1606 foi um desastre, com várias mortes entre os actores. Desde então, mencionar o nome “Macbeth” dentro de um teatro é considerado má sorte. Para evitar o azar, os actores referem-se a MacBeth como “A Peça Escocesa”.
O Matuto sempre achou curiosa a história duma mise en scéne absolutamente bárbara. Durante uma apresentação da Aida, de Verdi, no Metropolitan Opera, em Nova Yorque, um elefante (sim, um elefante de verdade!) que fazia parte da encenação recusou-se a sair de cena. O simpático paquiderme gostou da atenção do público e decidiu permanecer em palco. Naturalmente “se um elefante incomoda muita gente…”, um elefante pacatamente estacionado em palco, força uma pausa no espetáculo. O público achou tudo muito engraçado, mas os encenadores tiveram um ataque de nervos!
E vem tudo isto à baila porque o Matuto leu num livro do Mega Ferreira que o Teatro di San Carlo, em Nápoles, é uma verdadeira jóia do teatro mundial. É o teatro de ópera mais antigo em funcionamento contínuo, tendo sido inaugurado a 4 de novembro de 1737. Muito antes de outros teatros icônicos como La Scala, em Milão, ou o La Fenice, em Veneza. O Teatro di San Carlo é deslumbrante, com seis níveis de camarotes dourados dispostos em forma de ferradura que criam uma atmosfera de luxo e grandiosidade. O tecto é adornado com pinturas que retratam festivais religiosos dedicados ao deus Dionísio – deus do vinho e da fertilidade. O Matuto acha este detalhe delicioso.
Entretanto, o Mega Ferreira lança outra curiosidade: assegura o Mega que todos os camarotes estão equipados com espelhos. E todos os espelhos estão colocados num determinado ângulo. Na verdade, todos estão direcionados para reflectir o que se passa no camarote real. A razão: o povo deveria imitar todos os gestos do Rei. Se o Rei aplaudia a ópera ou a peça, o povo também deveria aplaudir. Se porém o Rei se desagradava com o espetáculo, o povo deveria ter atitude semelhante. Se o Rei não reagia o povo tão pouco o deveria fazer. O Matuto lendo isto, ponderou na analogia entre os Cristãos e o seu Rei Jesus. O alvo do Cristão é “reflectir e imitar Cristo na sua vida” (Ef. 5:1-2). Por enquanto vemos Cristo “por espelho em enigma” (1 Cor. 13:12), diz-nos o sábio Apóstolo Paulo. Tentamos imitar Cristo nas nossas atitudes, pensamentos e acções. Tentamos, e muitas vezes falhamos… Todavia, haverá um dia em que veremos o nosso Rei face a face. Aí cessam as tentativas. Aí param os acertos e desacertos… as frustrações… os desencantos e distopias. Aí reinará uma serena tranquilidade. Aquela tranquilidade que sempre nasce das questões bem resolvidas – matuta o Matuto. Ah, que o ano de 2025, seja bem resolvido! É este o desejo do Matuto.