Quem paga para que se diga mal de si?

Marques Mendes devia de ser ‘obrigado’ a não se pronunciar sobre as presidenciais no seu espaço de opinião semanal – pois é desonesto intelectualmente – e a jornalista também não se devia sujeitar a fazer a figura que faz.

Vi a notícia de soslaio, talvez estivesse na cozinha entretido com os tachos, e nos dias seguintes com o stresse dos fechos dos jornais não voltei a encontra o assunto na comunicação social, pelo menos no que diz respeito a textos de opinião. Não sei se na televisão os palpiteiros do costume se debruçaram sobre o tema, mas ontem fiz uma pesquisa pelo dr. Google e, além das notícias que saíram no dia – curiosamente a imprensa brasileira deu mais ênfase – só encontrei um texto de opinião de Pedro Adão e Silva, esse socrático que tem deixado obra por onde tem passado…

A história diz respeito a um cartoon de Ann Telnaes, que já ganhou um Pulitzer, que foi censurado no jornal onde trabalhava desde 2008, o Washington Post, em que retratava vários bilionários a prestarem vassalagem a Donald Trump, levando sacos de dinheiro para oferecer ao novo Presidente americano, vendo-se ainda o Rato Mickey deitado no chão. E qual a razão para o cartoon ter sido censurado, apesar das desculpas esfarrapadas dos ‘censores’? É que um dos retratados é precisamente Jeff Bezos, dono do jornal. O tema é escaldante para quem escreve e para quem comenta, mas parece-me óbvio que o censor esteve mal por não ter publicado o cartoon. Coisa diferente seria no dia seguinte chamar a sua cartoonista e dizer-lhe: «Minha cara, quem mantém o jornal aberto e paga os ordenados foi humilhado por ti – por quem não tens consideração – por isso imagino que não te sintas bem em trabalhar numa empresa dele».

Penso que os jornalistas devem ter uma relação transparente com os seus patrões… e com os seus leitores, espetadores ou ouvintes: não falam dos patrões, nem bem, nem mal – quando muito dão conta de que a empresa ampliou ou diminuiu o grupo. Basta olhar para qualquer grupo de comunicação social português e ver em qual os donos são atacados… Não conheço nenhum, e não estou a falar dos meios de comunicação dos partidos. No século XXI, ninguém investe na comunicação social para ser atacado pelos seus funcionários. Isso é ponto assente, e para que não existam confusões, a regra deve ser a de não se falar, até para que não se diga que está a fazer um frete ou que foi censurado. Num mundo perfeito, Ann Telnaes não se teria demitido, mas a cartoonista sabe perfeitamente que não lhe falta mercado noutros meios que não sejam de Jeff Bezos. Para os espíritos mais suscetíveis, diga-se que há grupos onde os patrões não deixam ‘entrar’ nomes de quem não gostam – que, eventualmente, disseram mal deles.

Mas, e aqui digo-o, obviamente, de forma provocatória, há casos em que defendo a censura. Vejamos o que se passa ao domingo na SIC, onde Marques Mendes, à semelhança de outros comentadores de programas similares, Portas é um bom exemplo – levam as perguntas feitas para os jornalistas as fazerem com um ar muito sério, enquanto no rodapé já aparecem as resposta do entrevistado/entrevistador.

No último domingo Marques Mendes ultrapassou todos os limites do aceitável e a jornalista Clara de Sousa aceitou fazer figura de jornalista 0.0! Como é possível fazer as perguntas que Marques Mendes lhe deu, e este ter entrado no tema das presidenciais, falando na hipótese de André Ventura vir a desistir em favor do almirante, e Clara de Sousa nem lhe ter falado na entrevista que Castro Almeida, ministro Adjunto e da Coesão Territorial, e amigo pessoal do comentador, deu ao SOL – e que foi tema de conversa todo o fim de semana –, em que assumia que Marques Mendes será o candidato presidencial do PSD. Parece-me pois óbvio que a direção da SIC devia ‘censurar’ Marques Mendes nas questões presidenciais. Sendo o comentador líder de audiências, só têm que lhe dizer: ‘Meu caro, a partir de agora o senhor não fala mais de Presidenciais, pois é parte interessada e não pode usar este espaço para atacar os adversários, enquanto está escondido atrás do ecrã. Fale, até porque fala bem, dos temas em que não tem interesses’. Só isto.

Telegramas

Energia a mais

O antigo CEO da Galp demitiu-se depois de ter vindo a público que teria tido um caso amoroso com uma colega. Algum bufo decidiu dar com a língua nos dentes e até a je ne sais quoi Paula Amorim achou que podia haver incompatibilidades. Não percebi onde… Que raio de mundo estamos a criar? Ah! Se fosse um caso gay, seguramente que em vez de incompatibilidade se falaria em homofobia da administração. E se fosse com uma mulher negra, seria racismo.

Maçonaria e Opus Dei

Dois conhecidos maçons da Loja Regular anunciaram a criação de uma associação de apoio à candidatura presidencial do almirante Gouveia e Melo, que terá membros do Opus Dei, das Forças Armadas e por aí fora. Claro que todos participam a título pessoal, mas representantes do GOL, adversária da Regular, logo vieram dizer que a Maçonaria não se mete na política! Lol!

Califórnia a arder

É impressionante ver os estragos provocados pelo fogo. Atores e atrizes dão testemunhos arrepiantes. O pior filme da vida deles.

vitor.rainho@nascerdosol.pt