O troféu-lição

Depois de deixar o FC Porto, Sérgio Conceição só precisou de 6 meses para voltar a acender um charuto. Nem Baba Vanga podia ter previsto este arranque.

Quando Sérgio Conceição deixou o FC Porto não podia imaginar que a distância a que estava de fumar um novo charuto correspondia a seis meses. Nem mesmo Baba Vanga podia ter previsto este início de ano para o treinador português.
Se José Mourinho chegou a encomendar na Uber uma equipa para treinar, já Conceição pelo menos sabia com toda a certeza os pedidos que queria rejeitar. E não foi preciso comer as passas para pedir um desejo neste sentido. Ainda antes do final do ano, Sérgio era oficializado no AC Milan.
Depois de ter celebrado meio século de vida no mês de novembro, o último dia do ano de 2024 trouxe mais motivos para o técnico português brindar, com a apresentação oficial num dos históricos clubes italianos.
Além disso, com a mudança para Itália, Sérgio Conceição voltou a estar geograficamente perto do filho, Francisco, que havia reforçado a Juventus no último verão.
Curiosamente foi contra a equipa de Turim que o técnico teve o primeiro desafio pelos rossoneri.
No dia 3 de janeiro, na Arábia Saudita, jogava-se a meia-final da Supertaça de Itália: a Velha Senhora marcou aos 20 minutos, mas Sérgio Conceição ofereceu-lhe um andarilho com dois golos nos últimos 20 minutos do tempo regulamentar.
Conceição apresentava-se da melhor maneira com um triunfo por 2-1 após reviravolta e um lugar na final da competição.
Passaram mais três dias até ao jogo derradeiro. Frente a frente Milan e Inter, e a certeza de que o troféu seguia na bagagem rumo a Milão.
O desfecho do jogo já é conhecido, daí o charuto ter sido puxado logo nas primeiras linhas – um ritual que Conceição tornou célebre nas conquistas ao leme do FC Porto.
A vitória por 3-2 diante do Inter (novamente depois de ter estado em desvantagem, neste caso de dois golos), transformou-se mais do que num troféu de equipa, numa vitória pessoal e numa lição de vida: independentemente das circunstâncias, só é proibido desistir.
Os adeptos já estão rendidos e os jornais italianos falam em «coração, coragem e ideias claras». A Gazzetta dello Sport, o desportivo mais lido em Itália, escrevia: «Conceição muda a mentalidade do Milan e faz história». «Ainda há lugar para personalidade, adrenalina e convicção», podia ler-se no La Stampa.
E quando o percurso perde alguma graça, Sérgio Conceição mostra como dar a volta com raça.