O relógio entrou em contagem decrescente. Nos próximos meses ou o país dá sinais de mudança, de que se iniciou um caminho para a resolução dos principais problemas que afetam o dia-a-dia dos portugueses, ou é muito provável que se tenha esgotado a tolerância com os partidos que, como diz André Ventura, há cinquenta anos governam o país.
Com cenários de crise afastados no próximo ano e meio, cabe a Luís Montenegro mostrar que é capaz de fazer mais e melhor do que os socialistas fizeram.
O eleitorado não tem a mesma tolerância com a falta de realização dos governos de direita, como tem com os de esquerda. Em 2025 a paciência para a falta de resultados é pouca ou nenhuma. Os discursos radicais encontram hoje muito eco em quem está farto de se cruzar todos os dias com os mesmos problemas por resolver.
Para já não se vêm resultados naquilo que mais importa: a descida de impostos não é suficientemente robusta para ser sentida no bolso de cidadãos e de empresas; o SNS continua cheio de problemas que se sentem de forma dramática nas alturas de pico de procura, no verão e no inverno; na Educação, aos resultados péssimos que as avaliações internacionais têm revelado, junta-se uma dificuldade em responder de forma adequada à escassez de recursos (professores e auxiliares) nas escolas.
Os planos estão anunciados, mas os resultados não chegam. Para já o país ainda espera, mas a espera não aguenta para lá da primavera. Se alguns sinais positivos não começarem a chegar, os portugueses não vão dar a Montenegro um prazo muito mais alargado para provar que é um bom primeiro-ministro. O cronómetro está ligado para o autoproclamado Governo reformador da AD. Acabou-se o tempo da jogada política, é tempo de fazer política a sério.
Os socialistas, que trouxeram o país até aqui, não estão em melhor situação. Não basta a Pedro Nuno Santos repetir as críticas que um dia, há não muito tempo, Luís Montenegro dirigiu de forma igualmente violenta a António Costa. Os portugueses sabem que os problemas não são de agora, que foram herdados de um Governo – de que Pedro Nuno Santos fez parte -, que não foi capaz de os resolver.
Com a entrada em cena de um partido político que apregoa o ‘fartos destes políticos, estamos aqui para fazer diferente’ (mesmo que ninguém saiba como), o país não vai compensar o PS pela incompetência da AD.
Os portugueses sabem que foi o PS que nos trouxe até aqui, deram o benefício da dúvida a Montenegro, mas se o governo da AD não corresponder às expectativas, 2024 pode mesmo ter sido a última oportunidade para o centrão. Ironicamente, o futuro do PS está amarrado ao sucesso do Executivo do seu principal rival. Ou se salvam socialistas e sociais-democratas, ou caiem os dois.
2025 não é mais um ano de rotina democrática, cinquenta anos depois do 25 de Abril nenhum português compreende que estejamos a caminhar para pior, na Saúde, na Educação, nas perspetivas para o futuro. Em política não há vazios, o país está à beira de tomar uma decisão: se os incumbentes não servem, venham outros. Ventura tem sabido aproveitar competentemente o ar do tempo e se o vento não muda…
As eleições, autárquicas e presidenciais, vão ser o primeiro barómetro para percebermos se o centrão se vai conseguir salvar, ou se o país político vai mesmo mudar radicalmente, lá para a segunda metade de 2026.
O último rugido do centrão
O cronómetro está ligado para o autoproclamado Governo reformador da AD. Acabou-se o tempo da jogada política, é tempo de fazer política a sério.