Pessoas acima dos 55 anos estão a consumir mais álcool e drogas

Nos ‘países ricos’, a geração baby boomer está a beber mais álcool, a consumir mais drogas e a fazer sexo desprotegido e casual. A conclusão é de um estudo divulgado pela revista The Economist.

A geração do ‘sexo, drogas e rock’n’roll’ parece estar a manter os velhos hábitos, à medida que chega a uma idade mais avançada. Um estudo divulgado pela revista The Economist revela uma tendência nos «países ricos» de maior consumo de álcool e drogas entre os mais velhos. De 2003 a 2023, a proporção de pessoas de 18 a 34 anos nos EUA que «em alguma ocasião consumiram bebidas alcoólicas» caiu de 72% para 62%, de acordo com a empresa de pesquisas, Gallup. No entanto, entre aqueles com mais de 55 anos, o consumo de álcool aumentou de 49% para 59%.
«São pessoas que nasceram nos anos 60 anos e viveram uma época muito associada a estes comportamentos», explicou a socióloga e especialista em gerontologia Stella Bettencourt da Câmara. «Ao envelhecerem, esses hábitos acabam por acompanhá-los ao longo da vida e até podem aumentar».
Na Austrália, enquanto os mais jovens estão a consumir em quantidades mais reduzidas, os mais velhos aumentaram o consumo de risco de bebidas alcoólicas, de acordo com a instituição australiana Alcohol and Drug Foundation, em 2022. Já em França, o consumo de álcool caiu entre todos os grupos etários nos últimos anos, mas principalmente entre os jovens.

MAIOR CONSUMO DE DROGAS
Mas os comportamentos problemáticos não ficam por aqui. O abuso de substâncias de forma imprudente tem-se revelado uma tendência entre a geração que parece não ter deixado para trás a ‘loucura’ da juventude.
Nos Estados Unidos, o consumo de canábis disparou entre os mais velhos. Uma das justificações pode ser o facto de a substância ser legal na maioria dos estados e a geração baby-boomer ter consumido mais canábis na juventude. Personalidades famosas da política americana, como Barack Obama e Kamala Harris, já admitiram ter consumido quando eram mais jovens.
Também em Espanha, o número de pessoas entre os 55 e os 64 anos que relata ter usado cocaína no ano passado aumentou oito vezes em 15 anos. Em Inglaterra, pessoas na faixa dos 50 anos estão «a voltar a consumir como faziam em festivais», revelou ao The Economist a investigadora sobre consumos aditivos Fiona Measham.

SEXO DESPROTEGIDO
Outra tendência preocupante é o aumento do sexo desprotegido entre os mais velhos e, consequentemente, das doenças sexualmente transmissíveis. «Hoje, os adultos mais velhos são mais propensos a participar em encontros casuais e sexo sem preservativo, o que pode ser ainda mais encorajado pela disponibilidade de medicamentos para a disfunção sexual, as comunidades de reformados e o aumento do uso de aplicações de encontros para idosos», revela a investigadora Janie Steckenrider num artigo da revista The Lancet.
A prevalência de gonorreia entre americanos com 55 anos ou mais aumentou em mais de seis vezes desde 2010. Também em Inglaterra, embora o número de novas infeções por sífilis entre jovens adultos tenha caído ligeiramente, os casos em pessoas com mais de 65 anos cresceram 31%. Numa nota mais positiva, esta tendência não se tem aplicado ao HIV, cujo número de novas infeções está a cair a nível global .

NOVA GERAÇÃO PROBLEMÁTICA?
À semelhança do que acontece em Portugal, o número de pessoas com mais de 65 anos está a crescer em todos os ‘países ricos’. Na Grã-Bretanha já representam mais de um quinto da população.
Enquanto no passado eram os jovens que preocupavam as autoridades de saúde e os políticos devido aos comportamentos erráticos, hoje os mais velhos estão a tornar-se a nova geração ‘problemática’ e a sobrecarregar os serviços públicos.
«No geral, não existe uma preparação para estes anos extra que derivam de uma maior longevidade. O facto de não haver um plano para a reforma, tem consequências ao nível da qualidade de vida (por exemplo, mais depressões e maior solidão)», alerta Stella da Câmara.