A tomada de posse seguiu-se às eleições gerais onde a Frelimo foi o partido mais votado, com 65% dos votos, e o seu líder, Daniel Chapo, eleito Presidente da República. Antes de ser candidato presidencial do partido que está no poder desde a independência em 1975, foi apresentador de rádio e televisão, notário, professor universitário, governador provincial e secretário-geral da Frelimo. Daniel Chapo, de 48 anos, sucede no cargo a Filipe Nyusi.
No discurso de tomada de posse, Daniel Chapo apresentou um conjunto de medidas a implementar durante o seu mandato. Falou da necessidade de recuperar economicamente o país, fazer a reconciliação nacional, criar mais empregos, fazer a reforma da lei eleitoral e a descentralização do poder, atribuindo ao Governador provincial maior responsabilidade, e acabar com a corrupção com a criação de uma Inspeção Geral do Estado. Anunciou a intenção de privatizar empresas e ativos públicos não estratégicos, promover o investimento privado nos portos e caminhos de ferro e acelerar a digitalização do Estado. Foi também anunciado a criação de programas para tornar as mulheres líderes e apoiar iniciativas empreendedoras na agricultura, indústria e tecnologia. Apesar do discurso abrangente e transversal a quase todos os partidos – nas redes sociais escreve-se que 95% das medidas apresentadas são decalcadas do programa eleitoral de Venâncio Mondlane – a eleição de Daniel Chapo continua a ser contestada nas ruas, com os manifestantes pró-Mondlane a pedirem «a reposição da verdade eleitoral». Recorde-se que os observadores internacionais relataram irregularidades na votação e alteração de alguns resultados, mas o Conselho Constitucional de Moçambique manteve a vitória da Frelimo.
Manifestações e confrontos
No dia da discreta cerimónia de tomada de posse voltaram as manifestações e os confrontos com a polícia de que resultaram mais oito mortos, cinco na região de Maputo e três em Nampula. A ONG Decide, que monitoriza os processos eleitorais, informou que morreram 309 pessoas, 619 ficaram feridas e 4.228 foram detidas durante as manifestações convocadas por Venâncio Mondlane. Importa dizer que a onda de protestos não se deve apenas aos resultados eleitorais. Muitos moçambicanos saem à rua para protestar contra a pobreza e as dificuldades que sentem para sobreviver num dos países mais pobres do mundo.
No plano interno, os partidos sabem que não é possível governar o país com manifestações diárias que param a atividade económica. Antes de tomar posse, o novo Presidente teve contactos considerados muito positivos com os partidos da oposição, só que é preciso alargar o diálogo ao candidato presidencial derrotado, isto se a ala dura da Frelimo o permitir. Venâncio Mondlane afirmou que manteve contactos com Daniel Chapo através de um amigo comum, e deixa a porta aberta ao diálogo, ao mesmo tempo que afirma ser o «Presidente eleito pelo povo» e, hoje, vai apresentar medidas governativas para os primeiros 100 dias.