Aprender em Sevilha a ser feliz

As manifestações da ‘Geringonça’ no Martim Moniz revelam bem o que a extrema-esquerda pensa das forças de segurança. Em Sevilha vi como a ASAE portuguesa ia à falência, já que lá não deixam os inquisidores destruírem a tradição. Ah! E existe recolha de lixo todos os dias.

Nas minhas passagens por África, onde trabalhei bastante, mas também me diverti muito, houve um episódio caricato que costumo contar e que é revelador de uma certa forma de vida – é completamente idiota pensar-se que somos todos iguais, quando somos tão diferentes, e ainda bem. Estava num restaurante e pedi uma bebida, enquanto o meu colega e amigo pediu outra. Ao fim de 25 minutos de espera, perguntei de novo pela bebida. Resposta do empregado: «Tem, mas não há!». Queria o simpático empregado dizer que estava na lista, mas não havia para vender.

Portugal cada vez mais me faz lembrar essa história, à medida que vamos sabendo o estado em que os anteriores governos deixaram o país – e não faço ideia se algum conseguirá mudar alguma coisa, tamanha é a força de interesses ocultos… Vamos aos serviços públicos e é como se a covid tivesse ‘deixado’ cair uma bomba atómica que arrasou tudo, fazendo com que uma simples ida a uma repartição de Finanças seja uma verdadeira odisseia. Os restaurantes passaram a fechar mais cedo, os serviços, regra geral, pioraram, veja-se o que era o Uber e o que é, e por aí fora. Mas a história das Forças de Segurança é o melhor espelho de como uma certa esquerda encara a realidade. Deixados, literalmente, ao abandono, foram perdendo elementos, ano após ano, viram as instalações degradarem-se, perderam regalias, desde as messes onde podiam comer mais barato, até às camaratas onde podiam descansar, e por aí fora.

Já se percebeu que vai ser muito difícil recuperar o efetivo necessário, estão milhares em lista de espera para se reformarem nos próximos anos, mas um ordenado digno e condições normais para trabalharem são vistas como uma cedência ao Chega, como ouvi um jornalista interpelar André Ventura. Então um ordenado digno para as forças policiais é uma cedência ao Chega? Penso que é bastante revelador de como a geringonça olhava para quem usa farda.

Esta semana, ao entrevistar Hermínio Barradas, líder do sindicatos dos chefes dos Guardas Prisionais, fiquei ainda mais com a sensação de que alguém se esqueceu dessas pessoas, independentemente dos excessos que alguns possam cometer. Há cadeias a serem praticamente ‘comandadas’ por guardas, faltam elementos em todos os setores, e quem está numa categoria abaixo não quer progredir porque o ordenado não compensa as chatices. Digamos que o ordenado de guardas se aproxima do de chefes e o destes do de comandantes. Veremos como irá isto tudo acabar, no que diz respeito às forças de segurança, agora que a ‘Geringonça’ assumiu na rua o que pensa das forças policiais.

Resumindo, tem polícias, mas não há os suficientes.

Até há uns tempos, era comum falar-se na herança do Salazarismo, eu penso que iremos falar durante muito tempo da herança da Geringonça, e não só. Outros, nomeadamente do PSD, também tiveram culpas. Vou dar dois exemplos do que vi em Sevilha no passado fim de semana: ruas limpas, apesar de haver milhares de pessoas nas ruas, pois lá os serviços de higiene urbana trabalham todos os dias. Em Lisboa, a Câmara não consegue chegar a acordo com os sindicatos e ninguém fica a saber o que está em questão. Seria normal que o sindicato ou a autarquia revelassem o que está em causa para sabermos porque estão tantas vezes em greve e não trabalham aos domingos.

A segunda diz respeito ao crime cometido pela ASAE quando António Nunes a liderou. Recordo-me de me ter dito em dezembro de 2005 que iria fechar 50% dos restaurantes e cafés portugueses, por não cumprirem os requisitos exigidos por Bruxelas. Em Sevilha, todos se estão a borrifar para a ASAE lá deles, e a restauração prospera, com alegria e com colheres de pau. Em que raio de país nos tornámos de proibir tudo, numa agenda wokista ou de Bruxelas?

Telegramas

Chega para cá

O deputado do Chega, Miguel Arruda ‘Mãozinhas’, aparecia num vídeo a mostrar as obras previstas para uma cadeia nos Açores. Calculo que ainda lhe vá servir de poiso. Fica por saber se poderá levar uma mala grande, para ir ‘enfiando’ outras mais pequenas. Genial.

O milagre de Milei

Vejo no meu telemóvel uma notícia do Expresso: ‘Argentina inverte défice comercial e tem o maior excedente em 20 anos’. Mau! Então o diabo do Milei está a conseguir dar a volta ao texto e a fazer subir a Argentina? Para quem era o pior do piorio, como dizia um colega do Porto, não se está a safar nada mal…

O drama do Dragão

André Villas-Boas herdou um clube praticamente falido, mas a guarda pretoriana de Pinto da Costa não desarma e tudo fará para voltar a ter os privilégios de outrora. Cabe aos verdadeiros portistas perceber que o populismo
só leva ao abismo.

vitor.rainho@nascerdosol.pt