Aos moralistas vomito-os

Chega e Bloco de Esquerda caíram na sua própria ratoeira, é o que acontece a quem se julga com superioridade moral.

Detesto moralistas, é uma questão genética. Talvez na origem deste ódio de estimação esteja a capacidade de me ver ao espelho, sem filtros. Como a maioria dos seres humanos tento fazer o melhor que posso e sei. Mas como diz São Paulo, «não faço o bem que quero, mas faço o mal que não quero». Esta é a razão por que jamais poderia entrar nas fileiras do Chega ou do Bloco de Esquerda ou votar num destes dois partidos.

Pelo que disse acima, não me surpreendem as notícias dos últimos dias. Apesar do caricato das histórias não era difícil adivinhar que, mais tarde ou mais cedo, cheganos e bloquistas acabassem por ficar enredados na sua suposta superioridade moral.

Confesso que assim que ouvi a notícia de que um deputado do Chega foi apanhado a roubar pensei: bem feita! Não para ele, mas para os seus companheiros de partido e para o seu líder, o rei dos moralistas: André Ventura. Não vou condenar o deputado Miguel Arruda. Não sei o que se passou, nem se o que se passou tem uma explicação que vai para além do delito. Quem ouve os discursos do Chega, e deste deputado em particular, é levado a ignorar que há problemas que têm explicações mais complexas do que aparentam. A mente humana é um mistério por desvendar. Mas face ao que veio a público, não posso deixar de rir à gargalhada com o cartaz do Chega a exclamar VERGONHA. E aquelas bandas penduradas nas janelas do Parlamento com os líderes políticos atrás de umas notas, que por acaso fazem parte do salário que lhes é devido. Não me digam que não tem graça. Pode-se pensar, não, isto foi só um acidente de percurso. Mas não foi, aqueles 50 deputados são humanos como nós, de certeza que não são poços de virtude como querem fazer crer, e mais dia menos dia, os podres acabam por vir à tona.

Ironia do destino, no mesmo dia, pela mesma hora, outra notícia curiosa: o Bloco de Esquerda despediu mulheres, mães, algumas delas ainda a amamentar. Desta vez não é crime, foi tudo dentro das regras legais. Então qual é o problema, diz o BE num comunicado indignado? Eu explico. É que o Bloco anda pelo país fora a escarafunchar empresas à procura de patrões que discriminem negativamente, por vezes até ao despedimento, mulheres grávidas, mulheres com horários reduzidos ao abrigo da licença de maternidade. Discriminação! Violação de direitos das mulheres! Dizem as dirigentes do Bloco sobre os malandros dos patrões. Só que quando são elas as patroas, e precisam de fazer escolhas, quem é que escolhem? As mulheres em fase de maternidade, porque não produzem tanto como os outros. Este é o problema, é uma traição aos ideais que nos atiram à cara sempre que podem. Sempre em tom de superioridade moral. Correu-lhes mal. Já deviam ter percebido com o caso Robles que é perigoso transformar o discurso político em lições de moral. Não aprenderam nada. Nunca aprendem.

Finalmente, quer no caso que envolve o Chega, quer no caso que envolve o Bloco de Esquerda, há um ponto comum que não deixa, também, de ser muito engraçado. Os dois partidos tentam defender-se com recurso a censura. O Bloco enviou uma queixa à ERC, contra a revista Sábado que publicou a notícia. O Chega, pasmem, quer legislar contra fake news. Diz o líder do Chega/Açores que deve ser criada «legislação que penalize forte e violentamente todo o jornalista que dê uma má notícia e que ponha em causa o bom nome das pessoas». Digam lá que tudo isto não é divertido e que os extremos não se tocam?