Hoje temos letras para todas as gerações. Uma espécie de signos que dividem as idades em tipos, definições, caracterizações. Antes de tudo, emprateleiram-se as pessoas em letras, definem-se as tendências e marcam-se as ditas gerações. A minha é a própria da incógnita: sou da geração X. Faço parte das pessoas que nasceram entre 1971 e 1983 (há quem considere outros intervalos, mas o importante é que nascemos todos na década de 70 e princípio de 80 do século passado). Os brasileiros simplificam e chamam-nos de geração Coca-Cola. O que quer dizer, segundo a sociologia, que cresci numa época de prosperidade económica, que tento a todo o custo equilibrar a vida profissional com a vida pessoal, sou muito dedicada ao trabalho e faço parte daqueles que dão o devido valor do analógico e do digital. Sabemos o que é um fax e um telefone fixo mas dominamos smartphones, o excel e vêm daqui os primeiros programadores profissionais. Isto apesar de desconfiarmos da IA. Fomos nós, estes X, que começaram a trabalhar com computadores que duravam meia hora a ligar, e ainda sem internet, mas mantêm-se estoicos no mercado a reunir por zoom e teams a fingir que nascemos na era digital. A nossa fragilidade, dizem, é que temos medo da geração que vem a seguir (a segunda incógnita da matemática: a geração Y) e desprezamos a geração de nos precede os doidos dos anos 60 a que chamaram de Baby Boomers ou (estranhamente) geração silenciosa. Aquela que iniciou o conflito de gerações com a canção do Cat Stevens, Father and Son. São os que fizeram explodir a demografia depois da II Guerra. Foram estes silenciosos que levaram para o debate político temas como feminismo, ambiente e luta contra o racismo, dizem as definições das gerações.
Depois veio a desgraça. A geração y ou millennial apanhou a primeira onda de recessão dos anos 2000 e desenvolveram uma necessidade de maior equilíbrio entre vida pessoal a profissional. Esta nova geração que cresceu entre o pântano de Guterres, tanga de Barroso e toda a era socrática, não sabe o que é a vida boa. Por outro lado, não sabem o que é o mundo dividido por um muro.
Chegamos aos miúdos conhecidos pela geração mais bem preparada de sempre, a Z. Entraram em massa nas universidades e queixam-se com razão de não terem salários decentes, não encontrarem casa e optam todos os dias por sair do país deixando-o aos mais velhos que não os deixam subir na vida. São os nativos digitais. Fazem tudo diferente das gerações anteriores. Têm causas, mas não casam, querem trabalho mas são alérgicos a empregos, sabem tudo mas desconhecem o passado. Vivem para o dia a seguir, para o surf, natureza e amigos. Preferem arrendar a comprar, os ubers a ter carro e não admitem férias sem viagens.
Por fim, os mais novos. Ainda não são gente mas já têm um nome: geração alfa. Nasceram nos últimos anos, durante a infância apanharam a covid e descobriram o mundo através dos écrans. São os primeiros que conseguem viver sem televisão e apenas com internet: chamam-lhe os screenagers.
Não sei se esta divisão do mundo me convence, mas a verdade é que o mundo mudou na letra Z e promete surgir outro com os alfas.
As pessoas em letras
Os sociólogos dividiram o mundo em letras. São as gerações que foram buscar as letras ao alfabeto. Uma espécie de signos que nos caracterizam e definem como marcas de água. Agora é a vez dos alfas. Novos e estranhos seres.