Política externa lusa falhou

Como investidor e empresário parece-me claro que no próximo século Portugal só tem a ganhar em lutar para ser a porta de entrada dos EUA na Europa

Imagino que os diplomatas lusos discordem deste diagnóstico, mas uma perspetiva fresca de fora mostra os grandes erros de várias décadas que se acentuaram recentemente. A política externa de Portugal serve os diplomatas portugueses em vez de os diplomatas portugueses servirem os interesses dos portugueses.
A carreira dos diplomatas portugueses nunca esteve melhor: António Guterres, António Costa, Durão Barroso, João Vale de Almeida e muitos outros tiveram e têm posições individuais de grande destaque. Mas que beneficio trouxe isso a Portugal? A julgar pela decisão há poucas semanas da Administração Biden, o impacto foi negativo. Ao restringir a exportação das tecnologias de ponta para desenvolvimento de Inteligência Artificial, os Estados Unidos criaram três grupos: os adversários (incluindo China e Rússia que serão bloqueadas de adquirir os chips mais avançados), os aliados (Canada, e Europa Ocidental) que poderão adquirir sem restrições; e os intermédios que só poderão adquirir através de autorização prévia e em quantidades muito limitadas. Em que grupo está Portugal? Nos intermédios, o último grupo. Sendo esta a tecnologia de futuro, em que se preveem investir centenas de biliões de dólares nos próximos anos, esta situação é trágica. Ainda esta semana, Masa Son, Oracle e Open AI comprometeram-se a investir $500 bn na tecnologia nos USA nos próximos 4 anos.
Cada país europeu procurará atrair investimentos semelhantes. Portugal está de fora da corrida ainda antes da partida. Há dois anos falava com um diplomata sénior português, que me dizia que o ideal para a Europa era não se alinhar totalmente com os EUA nem com a China. Isso foi o que Portugal fez e estes são os resultados.
Como investidor e empresário parece-me claro que no próximo século Portugal só tem a ganhar em lutar para ser a porta de entrada dos EUA na Europa. A saída da outra nação atlântica (Reino Unido) da UE abriu uma oportunidade única. Mas os nossos líderes perderam a oportunidade e defenderam mais a sua carreira que os interesses estratégicos do país. Este momento devia equivaler ao momento ‘Sputnik’ dos EUA. Perceber que Portugal tem um problema grande, discutir a melhor forma de o endereçar e começar a caminhar o quanto antes para pôr Portugal na primeira divisão de aliados dos EUA e parceiros no investimento em Inteligência Artificial.
Assumindo que lá chegamos outras batalhas serão necessárias:
Em primeiro lugar, batalhar para que os dados da EU possam circular no mercado interno sem barreiras. Isto não acontece, e alguns empresários americanos de setor disseram-me que isso lhes tirou interesse em investir em Portugal pois os maiores dados estão na Alemanha e França.
Em segundo lugar, temos de ter custos energéticos bem mais baixos. Isso implicará maior expediente para investir em novas centrais e abertura a centrais nucleares modulares pequenas.
Por último, uma presença continua em Washington e Silicon Valley para trabalhar com estas grandes empresas de forma a minimizar os custos destas, eliminar dificuldades regulatórias e apresentar Portugal como a localização ideal para investir em Inteligência Artificial na Europa.
Muito trabalho e suor. Mais fácil e mediático lutar para pôr Portugal no lugar rotativo do conselho de segurança. Dará umas carreiras e selfies bonitas, mas pouco efeito terá no futuro dos portugueses. Construir não é fácil. Mas deixa obra, serve os portugueses e as gerações futuras.