O Partido Socialista parece agora partido aos pedaços.
A oposição costuma contribuir para unir os partidos, mas com o PS isso não parece estar a acontecer.
Dois temas, entre outros, dividem os socialistas: a imigração e as presidenciais.
Da imigração, já falei.
Pedro Nuno Santos tomou uma decisão pragmática, que nos tempos que correm – perante a gigantesca invasão silenciosa de que o Ocidente está a ser alvo – é a única possível: é preciso regulação.
Nenhum país, nos dias de hoje, pode deixar entrar imigrantes sem nenhum controlo.
Os serviços públicos não aguentam, e a própria estrutura social treme.
Há choques culturais inevitáveis, o racismo tende a aflorar aqui e ali, sente-se um desconforto latente.
Em Portugal, esse fenómeno ainda não é muito visível – apesar de o número de imigrantes ter sofrido nos últimos anos um enorme aumento –, mas em países como a França, a Inglaterra ou a Alemanha os problemas com os imigrantes atingem níveis de conflitualidade altíssimos.
Ora o PS, como grande partido, como partido de massas, não poderia continuar amarrado nesta questão a preconceitos ideológicos.
Não poderia continuar a defender as mesmas atitudes que defendia há trinta anos.
A maioria do eleitorado exige que o Estado faça alguma coisa relativamente à imigração, tome medidas, atue; e não era com a defesa de uma política de portas escancaradas que o PS conseguiria conquistar novos eleitores ou mesmo manter os seus.
Curiosamente, Pedro Nuno Santos tentou rodear a sua mudança de posição, que foi imposta pela realidade, com argumentos ideológicos.
Com astúcia, explicou que o controle da imigração é «uma posição social-democrata», pois os sociais democratas sempre defenderam a intervenção reguladora do Estado e não o ‘laissez faire, laissez passer’.
Esta é uma posição dos liberais, que não condiz com a história e os princípios do Partido Socialista.
A outra questão que divide os socialistas portugueses é, como está à vista de todos, a escolha do candidato presidencial.
Eduardo Ferro Rodrigues propôs umas primárias, João Soares declarou o apoio a António José Seguro, e Pedro Nuno Santos disse esperar que António Vitorino anuncie em breve a sua candidatura.
Neste aspeto, não podia ter sido mais claro.
Julgo, aliás, que as conversas com Vitorino não terão sido estranhas à sua mudança de posição sobre os imigrantes.
Já se percebeu que Vitorino, sempre muito matreiro e cauteloso, usando muitas vezes as entrelinhas para dizer o que pensa, é favorável à regulação.
«Nós não podemos rotular como racistas e xenófobos todos aqueles que se sentem desconfortáveis perante o fluxo migratório» – disse António Vitorino, com invulgar clareza, numa entrevista à Rádio Renascença.
Ele, que de parvo não tem nada, compreendeu há muito que a avalanche de imigrantes que todos os dias procura o Ocidente tinha de ter uma resposta que não podia ser a simples enunciação de uma cartilha ideológica.
E Pedro Nuno Santos terá sido sensível a isto.
O homem que há uns anos fazia tremer as pernas aos banqueiros alemães tornou-se um líder maleável e pragmático, e não hesitou em mudar 180º o seu discurso.
Mas este facto tem outra consequência: complica as contas a António José Seguro, o socialista que parece não querer desistir de uma candidatura a Belém.
Perante um Vitorino muito moderado, apoiado por um Pedro Nuno Santos a navegar numa onda semelhante, qual será o espaço de Seguro?
Que diferenças substanciais tem ele para apresentar?
Sabendo-se que a sua principal arma é a moderação, se esta for assumida por Vitorino e Pedro Nuno Santos, que espaço lhe resta?
Qual poderá ser a marca diferenciadora da sua candidatura?
É que, em termos de carisma, não se pode dizer que seja um homem muito mobilizador, capaz de arrastar multidões.
Por todos estes motivos, penso que o Partido Socialista, aparentemente muito dividido, vai unir-se em breve sem grande dificuldade.
A necessidade de controlar a imigração vai impor-se por si própria, apesar dos esforços titânicos de Ana Catarina Mendes – e a candidatura de António Vitorino não terá em António José Seguro uma alternativa com potencial bastante para mobilizar muitos dirigentes e militantes socialistas.