Hollywood, penso eu, se calhar de forma ingénua, era a Meca do progressismo e até da transgressão, onde as atrizes estavam na linha da frente na luta pelos direitos das mulheres e não só. Grandes personagens faziam o que queriam e pouco se importavam com modas. Talvez por isso, tentaram vergá-los no período do ‘Macarthismo’, na célebre caça aos comunistas, onde os maiores democratas eram acusados de estarem ao serviço da União Soviética. Muitos recusaram denunciar colegas e amigos, outros mandaram para a fogueira inocentes.
Esquecendo o tempo abjeto do ‘Macarthismo’, Hollywood viveu depois tempos gloriosos, onde a máfia, por exemplo, se vergava ao fascínio da Meca do cinema, ajudando e participando no célebre filme O Padrinho, para mim uma das cinco obras primas da sétima arte. Esses tempos foram desaparecendo com os eventos da moda, com os modernismos, e com os ativismos atuais. Vem esta conversa a propósito da história da atriz trans, Karla Sofia Gascon, que está nomeada para o Óscar de melhor atriz pelo filme Emilia Pérez. Até há poucos dias, Gascón era apresentada ao mundo como um exemplo de libertação, igualdade, liberdade e que não havia dúvidas que merecia ganhar o Óscar. No ano passado, venceu mesmo o Prémio de Cinema Europeu de melhor atriz e o mesmo em Cannes. Quem colocasse em causa o talento de Karla era apelidado de xenófobo, fascista, racista e tudo o mais.
Acontece que se descobriu que Gascón escreveu umas coisas nas redes sociais, onde criticou muçulmanos e brincou com algumas das máximas wokistas. Resultado, Gascón passou a ser persona non grata – já se fala que não irá à cerimónia dos Óscares – e acusada de ser de direita e sabe-se lá mais o quê. É a história perfeita do mundo wokista, que manda para a fogueira quem abandona a estrada radical do seu pensamento.
O que era brilhante, passou a ser ascoroso. Muitas das campanhas publicitárias que protagonizava foram canceladas e até a Netflix fez desaparecer a outrora ícone da igualdade, fraternidade e liberdade. A Netflix retirou mesmo o rosto da atriz trans das imagens promocionais do filme. Haverá melhor retrato do wokismo do que isto? E o que dizer do mundo do espetáculo que alinhou com esta carneirada toda?Depois admiram-se que estejam a ser cancelados em grande parte do mundo que abriu os olhos, tarde, é certo, para estes fascistas do pensamento.
Neste mundo louco, também o que dizer do cancelamento de uma aula na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, onde Gouveia e Melo ia falar no âmbito da disciplina de Comunicação em Saúde? Estava tudo combinado há mais de um mês, mas o diretor da faculdade disse ao Observador que foi «por razões de organização interna» que cancelaram a aula. Quando questionado pelo jornal digital se a anulação da aula poderia estar ligada a uma «potencial disputa presidencial», João Eurico da Fonseca disparou: «Foram vários motivos. Mas razões essencialmente de organização». Entre este professor e a cultura wokista não há uma grande diferença. E o diretor da faculdade não sabe que só está a contribuir para dar mais gás ao almirante. Os radicais são terríveis.
Telegramas
Uma ideia de bandalheira
Na semana passada publicámos uma notícia que julgava que só acontecia em bairros sociais, onde as casas camarárias são, por vezes, ocupadas de forma selvagem e ninguém consegue fazer nada. Mas a notícia dava conta de uma casa particular, na Margem Sul, que está (ou estava) à venda e que foi ocupada pelos fregueses do costume e a GNR chamada ao local disse que nada podia fazer nada. O proprietário vai ter que esperar anos por uma decisão do tribunal. Isto é aceitável?
Outra história de bandalheira
A revista Sábado e o canal Now fizeram uma reportagem no aeroporto de Lisboa, provando que muitos taxistas estão ilegais, não tendo habilitações para desempenharem a profissão, e como muitos outros, legais ou não, ‘roubam’ os passageiros. Parece que os ‘crimes’ nem chegam a tribunal. Isto é normal?
Volta Zedú que estás perdoado
Diz o Jornal de Negócios que a filha do Presidente angolano, Cristina Dias Lourenço, vai ser a CEO da Bodiva – Bolsa de Dívida e Valores de Angola. Então era só José Eduardo dos Santos que nomeava as filhas para cargos importantes? Em Angola, nada de novo.