A Europa sob cerco tarifário

Sem uma resposta firme, Portugal e a Europa pagarão um preço elevado por uma crise que não criaram, mas que terão de suportar.

As recentes políticas comerciais anunciadas por Donald Trump voltam a colocar a economia global sob tensão. A imposição de tarifas sobre o aço e o alumínio provenientes do Canadá e México, bem como a aplicação de tarifas recíprocas à União Europeia, representa um regresso ao protecionismo agressivo que marcou o primeiro mandato de Trump. Estas políticas não são apenas um revés para o livre comércio; representam um golpe estratégico que pode abalar a economia alemã, desencadeando efeitos em cascata por toda a Europa e, inevitavelmente, em Portugal.

A Alemanha, motor industrial e exportador da Europa, é uma das principais vítimas desta investida protecionista. O setor automóvel alemão é particularmente vulnerável, dado que os EUA são um dos seus maiores mercados de exportação. A imposição de tarifas que podem atingir os 27% sobre os automóveis europeus afeta diretamente gigantes como a Volkswagen, BMW e Mercedes-Benz, colocando em risco milhares de empregos e provocando uma retração na produção industrial. Este efeito dominó espalhar-se-á por toda a cadeia de valor, impactando não apenas os fabricantes de componentes, mas também empresas de logística e transportes, exacerbando as dificuldades económicas.

Se a Alemanha sofre, toda a União Europeia sentirá o impacto. O mercado único europeu está profundamente interligado, e a contração do setor industrial alemão afetaria as exportações de outros países europeus, como França, Espanha e Itália. Além disso, o aumento das tarifas poderá desencadear uma retaliação por parte da UE, levando a uma escalada de guerra comercial que penalizará ainda mais os consumidores e as empresas europeias.

Portugal, sentirá, como sempre, o impacto destas medidas de forma indireta. Como um país fortemente dependente das exportações para a UE, qualquer abrandamento na economia europeia refletir-se-á nas nossas exportações, em particular nos setores automóvel, metalomecânico e têxtil.

O turismo, pilar essencial da economia portuguesa, pode sofrer um abalo significativo caso a recessão europeia se materialize, limitando o fluxo de turistas e comprometendo receitas essenciais para o setor. O aumento da incerteza económica também poderá impactar o investimento estrangeiro em Portugal, limitando o crescimento económico num momento em que o país necessita de consolidar o seu desenvolvimento.

Neste contexto, é fundamental que a União Europeia adote uma estratégia coordenada para mitigar os efeitos destas tarifas, promovendo acordos comerciais alternativos e reforçando a competitividade das suas indústrias.

Portugal, por sua vez, deve reforçar a sua resiliência económica, diversificando mercados de exportação e investindo na modernização da sua economia. O país não pode ficar refém das decisões arbitrárias de terceiros nem à mercê de uma economia global instável. As escolhas feitas agora serão determinantes para garantir que Portugal não apenas resiste, mas prospera nesta nova era de desafios económicos. Sem uma resposta firme, Portugal e a Europa pagarão um preço elevado por uma crise que não criaram, mas que terão de suportar.

Jurista e Membro da Comissão Executiva do CDS-PP