Depois do “espectáculo” de hoje na Assembleia da República de Portugal, foquemos-nos em temas relevantes.
No passado dia 14 de Fevereiro, em Munique, James David Vance, de 40 anos (da minha geração), anunciou uma nova visão americana para a Europa.
Uma visão assente quer no corte do “cordão umbilical” de quase 80 anos que subjugou a Europa aos interesses Norte Americanos, mas também no registo inerente do fim do Plano Marshall de 1948, cujos retornos extravasaram o investimento realizado.
Considero, por isso, ser o princípio da reconstrução da Europa que sempre fomos e que o Mundo precisa que voltemos a ser. Com uma estratégia própria e independente, com relações equidistantes e estratégicas com os parceiros que nos interessem e focada na projecção e garantia do bem-estar em vida de todos que dela fazem parte.
Agora, neste aparente “corte” que, a meu ver, corresponde a uma enorme oportunidade e responsabilidade para o futuro que precisamos de reconstruir, Portugal (o país e membro com as fronteiras mais antigas da Europa) também deverá encontrar a mais-valia que deve ser para este novo futuro.
Ser Europeu e parte do projecto europeu não se pode cingir a sermos pagos para não produzirmos e apenas fazermos se formos financiados para tal. Portugal tem o dever e a responsabilidade, pela História que representa, de se gerir com dignidade e de acordo com as suas necessidades e capacidades, pois, ao contrário do que outros tentaram transformar, ser Europeu e membro do projecto europeu é também ser parte integrante e aliado com dignidade e respeito pelas enormes diferenças secularmente existentes. Ao invés de almejarmos uniformizar culturas, formas de vida e amizades.
Espero por isso que possamos ter em Portugal um pensamento estratégico e sério com líderes e políticos dignos, ao invés do deboche (que faz lembrar os tempos horribilis da I República) e de infidelidade à Pátria (onde só interessa o que posso “tirar” ao Estado ao invés de estar ao serviço e melhorar o Estado) com que temos vivido nas últimas décadas. Aliás, subscrevo o que o deputado Carlos Guimarães Pinto referiu esta semana: “um político que dependa da política para viver nunca será um político verdadeiramente livre. Para termos políticos livres e competentes precisamos de pessoas com passado e futuro fora da política”.
Finalmente, ciente da nova Europa que deveremos projectar e recriar, não nos deveremos focar na maximização da integração (como a meu ver Draghi sentenciou no final de 2024) mas sim, apostar no que somos, respeitando os acordos e os limites existentes e projectando, por isso, de forma interessada, relações estratégicas com as potencias globais relevantes (entre as quais não deveremos jamais isolar e/ou afastar a Rússia). Mas também, criando novas alianças com outras Nações e regiões “vizinhas” e fora da “cortina” acordada, tais como com os membros do Conselho Túrquico (em especial a Turquia, o Azerbaijão e o Uzbesquistão), que, hoje, podem sanar várias dependências cruciais.
De facto, tal como Portugal se focou no Mar ciente do bloqueio continental, também, agora, a Europa dever-se-á focar e criar novas e desafiantes alianças económicas, respeitando sempre os limites dos acordos assumidos para assegurar a paz necessária.
Vivemos uma nova Era. Sem medos mas com muita responsabilidade. E cujo legado dependerá das gerações presentes.
A ver vamos…
Lisboa, 21.02.2025