Ouvindo uma primeira vez, talvez não fique na cabeça. Talvez sejam precisas mais umas quantas repetições. Mas a verdade é que os ouvidos dos portugueses renderam-se à canção Deslocado e os meninos da Madeira, cuja banda assume o nome de NAPA, venceram o Festival da Canção e vão ser os representantes portugueses na Eurovisão que, este ano, decorre em Basileia, na Suíça.
Mas quem são os NAPA, os rapazes que, até agora, passavam quase despercebidos aos ouvidos do público? Talvez haja quem se lembre deles como Men on the Couch. Assim começaram, em 2013, ainda na ilha da Madeira, na cave de uma avó. Tinham apenas um sonho: criar música. E assim foram conseguindo. Tinham algumas inspirações e o inglês foi, inicialmente, a sua língua principal. Bandas como Arctic Monkeys, Red Hot Chilli Peppers ou os Beatles e músicos como Caetano Veloso e Tom Jobim eram algumas das suas principais inspirações.
Foi – como grande parte dos cantores em início de carreira – no Youtube que começaram a dar cartas. As visualizações aos seus vídeos foram crescendo e as suas músicas começaram a ser apreciadas. De tal forma que decidiram deixar a cave da avó e procurar um estúdio. E começaram também a optar pela sua língua mãe, o português.
Em 2019, Guilherme Gomes (vocalista e guitarrista), João Rodrigues (baixista), Tiago Rodrigues (bateria) e Francisco Sousa (guitarrista), já tinham trocado a Madeira pelo continente e é nesse ano que gravam o seu primeiro disco, com o título Senso Comum. «As melodias contagiantes e o espírito cru e melancólico do disco foram ressoando gradualmente nos corações dos portugueses apaixonados», lê-se na biografia da banda disponível no site da RTP.
Quatro anos depois, lançam o segundo álbum, Logo se vê. «O novo álbum desafia as premissas estabelecidas em Senso Comum, trazendo para cima da mesa maior complexidade e inventividade na estrutura das canções. A veia pop romântica continua a pulsar no corpo do disco, mas a fome de descobrir novos ritmos e texturas musicais é evidente ao longo do álbum».
O sucesso foi tanto que no ano passado lançaram-se na sua primeira digressão nacional. Esgotaram dezenas de salas de norte a sul entre os principais clubes, teatros e festivais do país.
A vitória, o sucesso e as críticas
Foram convidados para o Festival da Canção deste ano e mostraram-se felizes. Mas, como os próprios confessaram, esta não foi a primeira vez que tiveram contacto com o festival, uma vez que já tinham tentado participar noutra ocasião. «Receber o convite direto foi a confirmação do trabalho que temos feito até hoje», disseram na apresentação.
A canção com que se apresentaram, Deslocado, com música de João Guilherme Gomes, João Lourenço Gomes, João Rodrigues, Diogo Góis, Francisco Sousa, André Santos e letra de João Guilherme Gomes, fala sobre a saudade da Madeira. Saudade, uma palavra tão portuguesa, tão nossa. «Nascer numa ilha e ter que sair para procurar outros horizontes e oportunidades», foi o mote para esta canção que conseguiu a vitória depois de ter ficado em segundo lugar na votação do público e em quarto lugar na do júri, com um total de 17 pontos.
Críticas nas redes sociais dispararam, mas também muitos elogios. Incluindo de Miguel Albuquerque, presidente do Governo regional da Madeira. «Muitos parabéns aos nossos madeirenses, aos nossos NAPA, por esta vitória no Festival da Canção. ‘Deslocado’ vai até à Eurovisão, mas, mais que isso, vão à Eurovisão todos os filhos que, em qualquer parte do mundo, tiveram de deixar a sua casa por uma qualquer razão», escreveu nas redes sociais. E acrescentou: «Vão os nossos estudantes, os nossos emigrantes, as mães à janela, vão as emoções, as saudades, vai a paz da nossa terra».
Ainda que a vitória divida opiniões e sejam milhares as críticas que, por poucas palavras, defendem que «esta não é uma música para a Eurovisão», os vencedores não se mostram tristes. «Têm-nos dito muitas coisas boas e más, na verdade. O nível de exposição e a quantidade de reações apanhou-nos de surpresa, sabíamos que tinha um impacto muito grande, mas é um pouco avassalador», disseram em entrevista à RTP, lembrando, no entanto que «as reações positivas têm sido muito mais impactantes e importantes do que as negativas. Mas sabemos que vai haver sempre críticas negativas».
Amar pelos Dois, de Salvador Sobral, também não era preferida. De longe. Recebeu críticas muito semelhantes. E a verdade é que, pela primeira vez, nesse já distante 2017, Portugal trouxe o troféu para casa. Nunca se agrada a gregos e a troianos. Por isso, esperamos pelo dia 13 de maio. E, se tudo correr bem, voltaremos no dia 17, na final.