É tudo criatividade…

Oh Arruda!!… mais infantil do que isto só a história dos terraplanistas, que acreditam que a terra é plana. Que grande criatividade…

E de súbito aparece um ato eleitoral não previsto no calendário de 2025, que se junta ao recentes que se realizaram e aos próximos já agendados. Até lá, adivinham-se semanas difíceis de passar. Terá de ser a criatividade dos políticos a contribuir para que as próximas semanas sejam animadas, caso contrário será uma chatice. Animadas q.b. porque a ‘parada está alta’. Será necessária muita criatividade para atingir os níveis de gargalhadas motivadas pela história do Arruda: o deputado que alegadamente roubava malas no aeroporto e vendia, através da plataforma vinted, umas coisinhas que encontrava nessas malas. Foi a notícia mais divertida dos últimos tempos, não obstante as pessoas terem ficado sem alguns pertences. A ideia de um indivíduo pensar que pode roubar umas malas do aeroporto é tão básica, infantil e desprovida de qualquer ideia de sanidade, que dá vontade de rir. Que se saiba, o Arruda não desperdiçou dinheiro do estado em proveito próprio, certo? O Arruda não utilizou a sua posição de parlamentar para alterar leis? Que se saiba, o Arruda não colocou cunhas para ninguém. É por isso que, antes de ter pensado um pouco no caso, dei umas boas gargalhadas. Como é que é possível um deputado da nação, que tem o avião como meio de transporte para se deslocar para a sua residência de origem, pensar num maquiavélico e ardiloso plano para roubar malas nos aeroportos e, ainda por cima, vender umas coisas pela internet? Oh Arruda!!… mais infantil do que isto só a história dos terraplanistas, que acreditam que a terra é plana. Que grande criatividade…

É claro que estou solidário com quem foi roubado pelo Arruda e penitencio-me porque até ao momento este texto não foi suficientemente solidário com essas pessoas. Por isso, e de volta às legislativas de 18 de maio, peço que as mesmas tenham pelo menos o valor de correr com o Arruda do parlamento.

Tempos houve em que os políticos tinham mesmo de ser criativos, por exemplo, para comunicar. A ausência de meios de comunicação de massas apelaram à criatividade e a outras ferramentascapazes de efetuar a transmissão de mensagens. Para além das inscrições na Mesopotâmia e os papiros do Egipto, em todo o período da antiguidade devem ser destacados a estatuária, a arte, a moeda e a oratória/retórica. Muitos Reis celebravam os grandes acontecimentos através de inscrições com sentido épico que legitimavam o seu poder, em alguns casos numa aproximação com o divino. Algumas expressões, como Guerra Santa e Realeza Sagrada, ainda hoje são empregues e mostram a possibilidade de apoiar ideologias no sagrado.

Hoje o discurso pós-moderno é o das vozes emergentes, das vozes periféricas. O discurso é por vezes agressivo e perdeu o seu carácter individual. O orador é visto como a face audível de uma estrutura. Não é de agora a necessidade do ‘homem político’ comunicar. Recordamos o episódio histórico da recomendação de Marco Túlio Cicero (106 a. C.-43 a. C.) ao seu irmão mais novo, Quintos Cicero, que se preparava para disputar o lugar de Cônsul da República Romana e registada no livro ‘Pequeno Manual de Candidatura Política’: “É preciso evocar agora um outro aspecto da campanha: a sua dimensão popular. Neste caso, o que é indispensável é conhecer o nome dos eleitores, saber lisonjeá-los, ser assíduo, mostrar-se generoso, cuidar da reputação e suscitar, pela maneira como os assuntos de estado serão conduzidos, esperanças vivas (…) Interioriza bem isto: ser-te-á necessário parecer que realizas de modo natural, coisas que não se encontram na tua natureza. Claro que não és desprovido dessa cortesia de homem de bem (…) mas será preciso juntar-lhe o sentido da lisonja, vício ignóbil em qualquer outra circunstância mas que, numa campanha, se torna qualidade indispensável (…) Ela é obrigatória num candidato em que a fronte, o rosto e os discursos devem mudar e adaptar-se segundo as ideias e os sentimentos, do interlocutor do momento”.

Esta recomendação está tão atual que poderia ter origem num qualquer assessor político da atualidade. Assim, a criatividade dos políticos de antigamente pode ser uma boa inspiração para os dias de hoje e, já agora, para a boa governança.

Professor Universitário
Diretor da licenciatura em Ciências da Comunicação  – Escola de Comunicação, Arquitetura, Artes e Tecnologias da Informação da Universidade Lusófona – Centro Universitário de Lisboa.