Na história recente de Portugal, há dois nomes que sobressaem pela sua ânsia de protagonismo: Américo Aguiar, cardeal, e bispo de Setúbal, que teve um grande desgosto por não ter sido nomeado patriarca de Lisboa, e que não perde uma oportunidade para aparecer. Seja na tribuna presidencial do FC Porto, então ao lado de Pinto da Costa, seja no congresso do PCP ou nas televisões onde tem um espaço de comentário; e Luís Neves, diretor-nacional da Polícia Judiciária, que vai no seu terceiro mandato à frente da PJ, e que não se importou de esperar cinco meses para ser reconduzido na última vez.
Olhando para as últimas semanas, e para não puxarmos muito o filme atrás, o diretor-nacional da PJ fez do vice-secretário-geral do Sistema de Segurança Interna (SSI) uma não existência, aquando da conferência de imprensa da fuga dos cinco prisioneiros de Vale dos Judeus, e, neste caso, até se percebe, pois o SSI estava verdadeiramente abandonado.
Mas o que dizer das sucessivas conferências de imprensa que Luís Neves dá a propósito de tudo e de nada? Há uma apreensão de cocaína, possibilitada por polícias internacionais, que comunicam onde os traficantes estão, o diretor da PJ pede ajuda à Marinha e à Força Aérea, e como os militares não podem prender traficantes, entram em ação os homens de Luís Neves, para este aparecer todo sorridente a recolher os louros. Bravo!
E o que dizer da detenção, em Itália, Espanha e Marrocos, de quatro dos fugitivos de Vale dos Judeus? Quem é que apareceu para apanhar os louros, qual amiga da noiva a apanhar o boquet? Adivinhou! Luís Neves. Pena é que o diretor-nacional da PJ ainda não tenha conseguido trazê-los presos por uma orelha para Portugal.
Que o homem tem talento, ninguém duvida. Se assim não fosse, não conseguia ser reconduzido, para um terceiro mandato, ao fim de cinco meses de espera e depois de, supostamente, ter recusado o cargo de secretário-geral do SSI e de a ministra da Justiça o ter descartado para a PJ. Luís Neves, apesar de ter amigos nas forças de segurança, deixa-os frequentemente com alguma indisposição quando aparece sozinho na televisão a fazer balanços que não dizem só respeito à sua chafarica, mas isso para ele é apenas um pormenor. Estou em crer que as agências Cunha Vaz e Luís Bernardo têm muito a aprender com Luís Neves. Bem, tudo isto são, digamos assim, questões de caráter, e não entremos pelo mundo dos aventais, vulgo Maçonaria, onde parece que os irmãos têm muito orgulho no seu venerável amigo.
Mas o que me levou a escrever esta crónica sobre o diretor nacional da PJ, apesar de alguns conselhos em contrário – ‘olha que ele é muito poderoso, olha que ele é isto e aquilo’ – foi a sua conferência de imprensa no dia em que Fernando Gomes tomou posse como presidente do Comité Olímpico, dia esse que coincidiu com as ‘rusgas’ da PJ às instalações da Federação Portuguesa de Futebol, precisamente a casa de onde tinha saído há dias Fernando Gomes. Luís Neves, qual Baltazar Garzón, Sérgio Moro ou Giovanni Falcone, entrou pelas instalações adentro, onde se iria realizar a cerimónia de tomada de posse de Fernando Gomes, para explicar aos jornalistas que num dia tão importante para o país, não queria que ficasse alguma dúvida a pairar no ar e que queria dizer ao mundo que Fernando Gomes está inocente. Extraordinário!!!! O homem é diretor da PJ, procurador, juiz e o que demais lhe aprouver. Claro está que, uns dias depois, o CM perguntou à PGR se as afirmações do diretor da PJ tinham sido coordenadas com a Procuradoria, e a resposta foi negativa. Também o CM dá conta do desconforto do titular do processo, um antigo inspetor da PJ, que não achou muita piada ao facto de o seu antigo diretor nacional ter ilibado Fernando Gomes. Para que fique claro, não está aqui em causa a honorabilidade de Fernando Gomes, mas este, como qualquer comum dos mortais, não pode ser ilibado ou culpado por Luís Neves.
P. S. Ao fim de 970 edições do SOL, deixo de pertencer à direção do jornal. É um ciclo que se fecha e outro que se abre.
Telegramas
O regresso de Trotsky
Francisco Louçã, defensor acérrimo da democracia do proletariado, decidiu acabar com a reforma política e voltou ao combate político, com todas as expressões de ódio que lhe são reconhecidas, para anunciar que se candidata à AR pelo BE porque na Presidência dos EUA_está um fascista!!! Calculo que Trump esteja já a falar, através do Signal, com J. D. Vance, o papagaio do pirata, para decidirem o ataque à sede dos bloquistas.
Junta a tua à nossa voz
O camarada Paulo Raimundo, e muitos dos seus seguidores, decidiram apresentar três queixas contra José Rodrigues dos Santos e a RTP. Parece que o PCP não gostou que o jornalista fizesse o seu papel e tivesse tentado saber o que pensam os comunistas sobre o ataque russo à Ucrânia. Mas se José Rodrigues dos Santos é um jornalista corajoso e que nada deve a ninguém, também digo que tive pena que na entrevista a Inês Sousa Real e até mesmo a Nuno_Melo fosse menos agressivo. Dez minutos tem de ser sempre a abrir. E gostava de saber se a líder do PAN prefere gastar dinheiro em hospitais para cães ou em pessoas…