Os três mitos do regime democrático

O cidadão comum só deseja que sejam resolvidos os seus problemas…

Já não dá para ocultar ou disfarçar… o país foi atirado para uma crise política grave da qual só sairá, a curto prazo, se os eleitores revelarem bom senso nas próximas eleições.


Uma vez mais os responsáveis partidários foram incapazes de encontrar uma solução baseada, exclusivamente, no interesse nacional.
Será agora criminoso que, em plena campanha eleitoral, se discuta, predominantemente, quem foi ou foram os responsáveis pela instabilidade.

E será absolutamente ridículo, no caso de se identificarem várias responsabilidades, medir o peso de cada uma para obter ganhos eleitorais.
Os políticos que optarem por essa estratégia estarão a passar um claro estado de menoridade ao eleitorado português e serão, merecida e severamente, penalizados.


Este ‘alerta’ não é dirigido a todos (partidos e respetivos agentes) pois isso nada vale para os extremismos, irmãos gémeos no ódio à democracia, que só se ‘realizam’ no caos, na demagogia e na estrumeira política.

A responsabilidade é, com absoluta prioridade, do PS e do PSD que são os pilares da vida pública dos últimos 50 anos e continuam a mobilizar e a representar a maioria dos portugueses. É uma boa altura, para os cidadãos lhes exigirem juízo e moderação.


A história política portuguesa regista e tem vivido, ao longo dos tempos, apoiada nalguns mitos. Analisemos apenas três.

O primeiro, e provavelmente o mais perigoso, é o da pretensa superioridade moral da ‘esquerda’ sobre a ‘direita’. Este disparate já foi abandonado na generalidade das democracias liberais, mas continua a marcar negativamente as condições de governabilidade em Portugal.

O segundo mito, que de algum modo depende do anterior, tem a ver com o ‘corporativismo’ que liga muitos eleitores às suas primeiras escolhas, tornando-os prisioneiros de pseudocompromissos de honra que são incapazes de violar, mesmo quando a evidência dos factos recomenda a mudança e a mobilidade.


O último mito desta série é o de que os dois principais partidos do sistema não devem colaborar, seja ao nível do governo, seja ao nível parlamentar, porque isso criaria espaço para o crescimento dos extremos.

É o famoso anátema do ‘bloco central’ que tanto e com tão grande veemência, se defende, sobretudo através dos comentadores ‘especializados’ da comunicação social.

A certeza de uma causa e um efeito, não sendo real é, contudo, tão percecionada que o país só ainda viveu uma experiência desse género.
Apenas Mário Soares um político inigualável e corajoso foi capaz de perceber (em 1983) esta regra e a sua inevitabilidade. Foi o tempo da afirmação da necessidade em meter, temporariamente, ‘o socialismo na gaveta’.


Não foi, de certeza por causa desta experiência concreta, que os extremos cresceram e que a democracia ficou em perigo.
Mas, curiosamente, foi a partir do momento em que esta solução foi exorcizada, como verdadeira blasfémia, que os extremos, à esquerda e à direita, não pararam de crescer.
O que faz crescer o extremismo e a intolerância não é o acordo potencial entre os mais responsáveis e representativos, mas exatamente o seu contrário.


Os cidadãos estão fartos de guerras mediáticas, de imputações criminais sem base, de insultos pessoais, de sentirem todas as linhas linhas vermelhas ultrapassadas e de promessas irrealizáveis.
O cidadão comum só deseja que sejam resolvidos os seus problemas e até está disposto a tolerar que os profissionais da política tratem das suas vidinhas.
Como é evidente não haveria agora instabilidade se o PSD e o PS, cuidassem mais do país e menos dos seus interesses.
Mas também é certo que a crise não terminará, exceto perante uma maioria absoluta, se os dois grandes partidos continuarem de costas voltadas entre eles.


Claro que a política, como a natureza, tem horror ao vazio e alguma coisa sucederá. Mas pode não ser boa de ver, pois a comunidade começa a não se sentir representada por aqueles que tomam decisões em seu nome.
A campanha ainda não começou e, infelizmente, já está marcada por um ato ignóbil do Chega.
Ao considerar que os últimos 50 anos (após a revolução de abril) foram 50 anos de corrupção, este partido ultrapassou todos os limites, atacou a democracia, violou o espírito da Constituição e colocou-se definitivamente fora do sistema.
Não tem perdão e os eleitores seguramente lhe irão dar a adequada resposta.
Estranho e, na verdade, incompreensível é, de igual modo, o (quase) silêncio ruidoso, sobre este assunto, do atual líder do PS