1. O suposto perigo russo serve a Macron para desviar a atenção da conturbada situação politica interna. Nem a História , nem nada no presente justificam o receio de uma ameaça russa.
Pelo contrário, os russos, o trauma do imaginário russo (que sustenta e é alimentado pelas sucessivas ditaduras ), têm ‘razões’ históricas e atuais para temerem, sine die uma invasão vinda do Ocidente.
Nos últimos cinco séculos a Rússia foi várias vezes invadida, Sempre a partir do Ocidente. «Os Russos combateram uma vez em cada 33 anos sempre na grande Planície do Norte Europeu. As invasões foram sempre por aí, área aberta, sem fronteiras naturais até à ponta da fatia que é a Polónia».*
Talvez seja pela inexistência de uma proteção natural de montanhas ou rios que a Rússia continua autoritária na sua natureza e não se liberta da obsessão de uma ameaça de invasão.
2. O Pacto de Varsóvia foi dissolvido, mas a NATO manteve-se e alargou-se. Desde então os russos têm visto a sua aproximação constante, com a adesão de países que a Rússia afirma terem assumido o compromisso de nunca se lhe juntarem: República Checa, Hungria e Polónia em 1990; Bulgária, Estónia, Letónia, Lituânia, Roménia e Eslováquia em 2004; a Albânia em 2009 **.
Em 2004, depois do colapso do império soviético em 1991, todos os antigos estados do Pacto de Varsóvia estavam na NATO ou na União Europeia. Hoje há forças armadas americanas a poucos centenas de quilómetros de Moscovo, na Polónia e nos Estados Bálticos.
3. Trump sabe muito bem, de facto, a razão de Putin para invadir a Ucrânia. Os Estados Unidos dos ‘bidens’ – que não são os de Trump – e o seguidismo venal dos dirigentes da União deram-lhe todas as razões, ou pretextos, para a invasão inaceitável. A entrada da Ucrânia na NATO era o cerco completo, a linha vermelha que não podia aceitar. O medo que domina o imaginário russo fez o resto.
4. A Ucrânia está cheia de russos. Quando há muitos anos passei em turismo por Sebastopol senti que estava numa cidade russa. Acresce que a recuperação da Crimeia*** deu à Rússia um porto de águas quentes com acesso direto aos oceanos que lhe faltava.
As regiões de Carcóvia, Lugansky, Donetsk, Krtdson, Mykolaiv e Odessa não voltarão à Ucrânia. Como disse Putin: «A Rússia perdeu esses territórios por diversas razões, mas as pessoas ficaram lá. Vários milhões de russos étnicos que ainda permanecem dentro do que foi a URSS, mas fora da Rússia. Desde o Grande Principado de Moscovo, passando por Pedro, o Grande, Estaline e agora Putin, cada líder russo, não importa a ideologia, confrontou-se com o mesmo problema: os portos continuam a gelar e a Planície do Norte Europeu continua plana. O mapa com que se confrontou Ivan, o Terrível é o mesmo com que Putin se confronta.
*Respigo de Tim Marshall, Prisioneiros da Geografia (“Desassossego), cuja leitura recomendo vivamente.
** A estes, acrescem a Geórgia, a Ucrânia e a Moldávia, que gostariam de aderir às duas organizações mas são mantidos à distância devido à sua proximidade geográfica com a Rússia e porque os três têm tropas russas ou milícias pró-russas no seu território. A entrada de qualquer um destes três países na NATO poderia despoletar uma guerra.
*** A Crimeia fez parte da Rússia durante dois séculos antes de ser transferida para a República Soviética da Ucrânia, em 1954, pelo Presidente Khrushchev.