A classe política é o reflexo do povo, digo isto imensas vezes e volto a repetir após o resultado eleitoral nas eleições regionais na Madeira.
Miguel Albuquerque, apesar de ser arguido num processo, apesar de ser suspeito de ter cometido várias irregularidades, apesar de ter no seu próprio partido quem discordasse da sua candidatura, apesar do desconforto que a sua candidatura causou ao PSD, apesar de partidos da oposição terem dito que nunca fariam acordos com o PSD enquanto Albuquerque fosse o seu líder e apesar do bom senso de qualquer cidadão sério indiciar que um candidato nesta circunstância não venceria eleições, Albuquerque venceu as eleições e ficou muito perto de uma maioria.
O que podem pedir mais os madeirenses?
Têm o que escolheram e por consequência o que merecem.
Por seu lado, o líder do PSD nacional que durante a campanha eleitoral manteve distanciamento do líder do PSD Madeira, após a contagem dos votos tenta com alguma desfaçatez colar-se a uma vitória que não é sua, mas de Miguel Albuquerque. Montenegro demonstrou oportunismo político e talvez alguma esperança por ver um companheiro vencer umas eleições, apesar de ser suspeito de ter cometido vários ilícitos.
É caso para dizer que o crime compensa, porque o povo é soberano e parece recompensar quem prevarica e o prejudica. Este não é o primeiro caso, há vários casos como é exemplo Oeiras, em que Isaltino Morais é um vencedor indiscutível, apesar de tudo o que se sabe. E depois há os outros, os que nunca foram constituídos arguidos, porque os processos estão enfiados numa qualquer gaveta ou secretária e continuam o seu caminho impunemente com a conivência da Justiça e a complacência do povo que parece não querer saber do que se passa em seu redor.
Vamos aos factos, os políticos podem ser fracos ou cometer irregularidades, a Justiça pode não funcionar para todos, mas os principais responsáveis são os eleitores que os escolhem!
De nada adianta, falar-se à boca cheia que os políticos são todos iguais (felizmente não são), que é necessário acabar com a corrupção e que há uma completa descredibilização da classe política e depois dar um voto de confiança a quem é exemplo de tudo o que não deve ser um político.
Tudo isto é mau demais, tudo isto faz diminuir a esperança daqueles que ainda acreditam que é possível dignificar a política e escolher um rumo diferente para o futuro, tudo isto é um sinal de que não é apenas a Justiça que é parca com quem prevarica, o povo é muito mais benevolente, chegando ao cúmulo de os voltar a escolher para (des)governar.
Em 50 anos de democracia, a iliteracia política ainda vai reinando para gozo de muita gente oportunista que escolhe como modo de vida servir-se da causa pública. A esses, interessa gente mal informada, ignorante ou ingenuamente crente na sua falsa seriedade para que tudo se mantenha igual.
Um país (des)governado por teias de interesses e fracos protagonistas com um povo acomodado e arredado da realidade, que ainda os premeia, desperdiçando a única arma que possui, o voto.
Portugal só terá bons governantes quando as pessoas forem exigentes e criteriosas nas escolhas, participarem mais na vida cívica, saírem de casa para votar e, de uma vez por todas, perceberem que a sua opção terá impacto direto na sua vida. Até lá, têm o que merecem!