Os dois Ocidentes

A escala de valores pela qual Bruxelas tudo mede está nos antípodas da tradicional escala greco-romana e cristã dos valores europeus.

Hoje, há dois Ocidentes. Foi isso que JD Vance veio dizer, serena mas firmemente, no seu famoso discurso de Munich. Um Ocidente que entende retomar as raízes da sua civilização milenar, com a sua sede em Washington que ele, Vance, ali representava. E, a ele contraposto, com a sua sede em Bruxelas, um Ocidente que terá traído aquelas raízes.


Vance é, de toda a equipa de Trump, de longe o mais bem preparado. Visivelmente este pôs, nas mãos daquele, o dossier mais delicado e importante, o das relações dos EUA com a Europa ou, melhor, com os países europeus. Daí o discurso de Munich. Um discurso que colocava condições para poder haver continuidade na velha aliança. E falo propositadamente em países europeus e não em Europa porque, quer Trump, quer Vance, fazem questão em não reconhecer a figura da Senhora von der Leyen e da sua Comissão que tenta hoje e está a conseguir, reduzir os países europeus à condição de colónias. Nenhum deles, Vance ou Trump, foi a Bruxelas ou convidou Bruxelas para a Casa Branca. Dir-me-ão que é dividir para reinar. Não, não é. É assegurar-se a liberdade de escolher os seus interlocutores. Não é por acaso que Giorgia Meloni esteve há uns dias na Casa Branca, ou que Vance esteve em Roma. Claramente foi escolhida como interlocutora por Washington para mediar entre os países europeus e os EUA. E porquê Meloni? Porque é uma conservadora inteligente, com prestígio europeu e que está a mudar a Itália, retirando-a do universo woke, da proverbial instabilidade política e da decadência económica. Porque a Itália, com Meloni, como a Hungria, com Orbán, fazem parte integrante do Ocidente que Trump e Vance querem resgatar.


É óbvio o desprezo de Trump e de Vance não pela Europa das nações, mas pela Europa de Bruxelas que está a liquidar tudo o que de essencial existe, ou existia, na velha Europa e que enformava o património do conjunto das nações europeias: a sua estrutura lógica, axiológica, científica, cultural e política. Mas, acima de tudo, o respeito por três valores basilares: a vida, a liberdade e a vontade soberana do povo condensada no ‘we, the people’. A escala de valores pela qual Bruxelas tudo mede está nos antípodas da tradicional escala greco-romana e cristã dos valores europeus. Quando Bruxelas sonoramente proclama os «valores europeus» devemos ler «os valores que estruturam o universo woke» que Bruxelas a todos nos quer impôr. Quando Bruxelas nos fala do «Estado de Direito» devemos olhar para a França de Marine le Pen, ou para a Roménia das eleições anuladas porque iam ser ganhas pelo candidato que não agrada a Bruxelas. No vocabulário da pátria do Maniken Pis, tudo quer dizer o seu contrário. 1984 deve ser o livro de cabeceira de von der Leyen e do seu informal estado maior: Metsola, Kallas, Lagarde, Bosnjak (presidente do TEDH) e, novidade no painel, Maria Luís Albuquerque. Atropelo dos tratados, biliões para ONG’s sem qualquer escrutínio, saque às poupanças que restam à classe média europeia, euro digital, ordens desabridas a primeiros-ministros de Estados-Membros, censura das redes, tudo se permitem e tudo lhes permitem os obedientes primeiros-ministros do Conselho, a quem competiria tudo liderar.


Voltando ao princípio: temos dois ocidentes. A qual queremos pertencer? É a grande opção do dia 18. A mais relevante, porque dela tudo o mais decorre.

Vice-presidente da Assembleia da República