Vivemos duas últimas semanas intensas.
Comecemos pelo acontecimento mais marcante: morreu um Homem bom.
O Papa Francisco fará muita falta. Não se percebe a precipitação do fim, mas o legado é bondade e esperança.
O nosso querido Papa Francisco que já nos faz muita falta, foi a prova, com tristeza, que mesmo o líder e quase todo-poderoso não consegue mudar as instituições, as pessoas e o Mundo.
É um facto que me deixa triste, dessincronizado e que irrita (tal como disse André Ventura a Pedro Nuno Santos no último debate).
Eu ainda acredito que os Homens bons possam mudar o Mundo e deixar um Mundo melhor às gerações vindouras.
A ver vamos o que o Conclave a começar no próximo dia 7 de Maio no reservará, na certeza de que “qui intrat papabile, exit cardinali”.
Ao mesmo tempo, também Portugal vive tempos diferentes e, quer queiramos quer não, este regime e este actores, infelizmente, já não nos representam nem motivam.
O momento insólito vivido na passada 2ª feira (28 de Abril de 2025), o tal “apagão”, demonstra bem a mediocridade em que nos tornámos. Foi a prova de que nos tornámos um País “exíguo, exógeno e um protectorado”, no qual “o credo do mercado e do preço substituiu o credo dos valores” como bem definiu e identificou o Professor Adriano Moreira.
Portugal não pode nem estar dependente nem refém de acções controversas (como vamos conhecer durante os próximos dias), nem de Países terceiros nem, muito menos, de decisões de empresas privadas (como a REN). Para além da estratégia nacional necessária, a reserva estratégica energética é óbvia e tem de existir. Finalmente, não posso deixar de destacar a ausência do nosso Presidente durante este tempo.
Portugal descaracterizou-se. Perdeu a estratégia necessária e perdeu a identidade única. Precisamos mesmo de voltar a ser Portugal, com uma estratégia clara e una, com identidade, com valores e, por isso, com dignidade e futuro.
Sinto e considero que estamos hoje sem Mundo. Hoje, não fazemos ideia do que se passa pelo Mundo, em especial em países e regiões extraordinárias, mas que desconhecemos por completo. Vivemos e bebemos ideias descontextualizadas, perdemos relações seculares apenas porque já não sabemos o que sempre soubemos: ter Mundo e ser do Mundo.
Por exemplo, acabo de chegar de Istambul e Baku, cidades extraordinárias e parte de Países que têm muito mais a ver connosco do que imaginamos. Acreditem ou não, senti-me em casa.
Mas qual a relação actual de Portugal com a Turquia e o Azerbaijão? Praticamente nula.
Contudo, diariamente o povo turco chama por Portugal ao pedir uma laranja/sumo de laranja “portaqal” ou, o Azeibaijão agradece a Lisboa e a Portugal pela garantia do reconhecimento seu território, ratificado e garantido pela ONU em 1996 na Conferência de Lisboa.
E o que é que Portugal tem feito e faz por estas relações do futuro? Nada! Rigorosamente nada! Por exemplo, o Azerbaijão (País estratégico em termos energéticos na Europa) até tem embaixada em Portugal e nós nada, nem um consulado ou cônsul, nem uma visita de Estado digna, apesar dos vários avisos feitos aos últimos governos e lideranças.
O Mundo está a mudar e Portugal não pode limitar aos parceiros de sempre. Precisamos e temos de garantir novas parcerias estratégias diferentes e ousadas. Não continuar neste “amadorismo e bimbalhice”, esquecendo países do presente e futuro europeu com quem, até, também temos a sorte de comungar história e onde também temos Portugueses em projectos estratégicos.
Precisamos de Portugueses interessados e interessantes.
Precisamos de um País e de um liderança com Mundo, para podermos almejar voltar a ser o País que fomos e seremos: mais sério, mais aberto, mais negociante e, por isso, um País a sério.
Portugal precisa voltar a ser Portugal.