Doze horas. Foi dose. Ainda antes das 12h. Os primeiros sinais, ou a falta deles, foram fáceis de detetar. A impossibilidade de fazer um refresh nas redes sociais ou o símbolo da mensagem por entregar lançaram os primeiros alertas.
Apesar das quebras, anda foi possível comunicar o suficiente para entender que se tratava de um problema geral. E que se arrastava à Península Ibérica. Aliás, que começava na vizinha Espanha.
E, de repente, passaram a existir vizinhos.
Com a hora do almoço a aproximar-se e a grande maioria dos telemóveis reduzidos à função de lanterna – com a bateria a ameaçar o seu uso no momento em que viesse a ser necessária – fomos obrigados a ligar-nos à rede disponível. O vizinho do outro lado da porta, da rua, nos cafés, no parque.
Com a informação escassa e o seu acesso igualmente limitado, a situação arrastava-se.
A campainha ou um simples bater à porta com os nós dos dedos substituía o som das notificações.
A conjuntura internacional e a falta de avisos contribuíram para alimentar o sentimento de pânico que levou tantos à corrida aos supermercados e às lojas de conveniência.
Um olhar pela janela bastava para sentir a diferença relativamente às outras segundas-feiras. Mas a pé ou no caos do trânsito, com rolos de papel higiénico debaixo do braço ou enlatados para duas semanas na bagageira, a ordem do dia mantinha-se. E caminhava para o seu fim. Na habitual hora de ponta o movimento era escasso.
Começava a ficar fraca a bateria do telemóvel ainda havia luz de sobra. Como já seria de esperar. Voltámos a lembrarmo-nos dos vizinhos. Mesmo quando estamos semanas a tentar evitar dividir o elevador. Não deixava de ser irónico, mas também não deixava de ser verdade.
Caiu a noite. Iniciávamos uma logística mental, afinal, a situação já estava a demorar mais do que alguém poderia imaginar.
Por esta altura, o céu e os seus tons conquistavam protagonismo. Estava admirável, mas talvez não fosse apenas hoje, só não tínhamos ainda dado por ele.
Os açambarcadores deviam estar descansados, a pensar que até podiam fazer a cama de lavado com rolos de papel higiénicos. Outros só podiam guardar a esperança de que um vizinho tivesse sido um deles e que pudesse fazer o especial favor em caso de necessidade.
Continuávamos dependentes dos vizinhos espanhóis para resolver o problema, enquanto se conspirava sobre a eventualidade de ser um mal maior.
O desespero aumentava depois de a noite entrar, mas, uma vez mais, estavam lá os vizinhos. Bateram palmas e gritaram, com um entusiasmo que deixava adivinhar: a luz tinha voltado.
E entre atualizações, mensagens e chamadas, terminava assim a segunda-feira, neste momento, já tão igual às outras…