Como fazer esquecer os sismos

Os sismos não avisam quando chegam, mas lembram-nos do que pode correr mal.

Os sismos podem ser avaliados em função da intensidade e magnitude, mas são apenas lembrados através da intensidade. A intensidade sísmica é um parâmetro para avaliar os efeitos destrutivos nas construções à superfície. A magnitude é um parâmetro proporcional à quantidade de energia libertada no epicentro, determinada a partir de sismógrafos. Portanto, para um dado sismo, a magnitude é só uma, mas a intensidade pode variar de local para local em função da qualidade da construção.

Os sismos não avisam quando chegam, mas lembram-nos do que pode correr mal. Nos últimos dois anos houve vários sismos, mas há três que marcaram a memória coletiva pela destruição observada e pelos milhares de vidas perdidas: Turquia–Síria (2023), Marrocos (2023) e, recentemente, Birmânia. Estes sismos sublinharam a importância crítica de regulamentos para aumentar a resiliência da construção; a necessidade de reforço das construções antigas; e a sensibilização da população para os riscos sísmicos.

O último sismo lembrou-nos também da necessidade de avaliação do solo. Embora o epicentro tenha sido na Birmânia, a combinação de um sismo superficial e de grande magnitude, com uma transmissão eficiente das ondas sísmicas, tornou possível que fosse sentido em Banguecoque, a mais de 1000 km de distância e especialmente nos edifícios altos.

Por cá, dois sismos (2024 e 2025) de magnitude moderada, na região de Lisboa, marcaram os noticiários, mas não a memória coletiva. Apesar de não terem sido registados danos, estes eventos reacenderam o debate sobre a qualidade da construção do nosso país.​

Em Portugal, a engenharia tem como objetivo permitir que vivamos em harmonia com os sismos, procurando minimizar o risco associado a estes, embora sem nunca o eliminar totalmente. Desde a década de 1980, as construções têm sido dimensionadas para sismos de referência. Dispomos de regulamentos que orientam o dimensionamento conforme as especificidades regionais e os tipos de solo. Contamos desde 2019 com critérios definidos para obras de ampliação, alteração ou reconstrução, incluindo a obrigatoriedade de relatórios de avaliação da vulnerabilidade sísmica.

Contudo, se as novas construções e aquelas que são alvo de intervenções estão abrangidas por regulamentos, torna-se urgente questionar a situação dos edifícios anteriores a 1980 que não sofrem qualquer intervenção. É essencial pensar na obrigatoriedade de emissão de certificados de resistência sísmica para construções em regiões de maior vulnerabilidade, prevendo-se naturalmente um adequado período de transição. É preciso garantir que os sismos não sejam lembrados pela destruição que poderia ter sido evitada.