Enquanto nos outros países da Europa as famílias crescem, por cá as famílias minguam. Há cada vez menos filhos e cada vez se tem filhos mais tarde. Aquilo que salva a taxa de natalidade do colapso geracional em Portugal é a taxa de imigrantes que vai equilibrando a balança trôpega dos nascimentos. Desde há décadas que este problema da quebra da natalidade é tema prioritário dos vários governos, de todos os partidos e em todas as legislaturas. Quando as primeiras sirenes soaram, estávamos a caminho do final do século e da cauda Europa. Desde então que as sirenes se mantêm ligadas e já ninguém liga muito. É uma espécie de barulho de fundo a que todos se habituaram. Ninguém sabe bem como resolver a natalidade em Portugal, inverter a tendência e fazer crescer as famílias. Além de diagnósticos, mexidas pontuais nos direitos e subsídios pouco ou nada se fez e os resultados não apareceram.
O grande problema da natalidade é que o problema não é apenas político, não depende de medidas conjunturais elencadas em programas eleitorais ou de governo e muito menos de ideologias. O problema da natalidade é a sua quebra ser um sintoma de uma sociedade e de um país com pouca esperança, rigidamente regulamentado e que desconfia do dia de amanhã.
É difícil ter filhos em Portugal e é muito difícil ter muitos filhos. Os obstáculos surgem em todos os campos: culturais, sociais, laborais, económicos, de escolaridade, habitacionais, de mobilidade e de acessibilidades. Não há casas para mais de dois filhos, não há carros para mais de três e não há creches que cheguem. A segurança laboral não é compatível com a insegurança de se ter filhos e a conciliação é apenas uma escala de prioridades ou uma escolha, não uma verdadeira conciliação. Ser mãe e trabalhar ainda é malabarismo e ser pai e trabalhar é business as usual. Demora sair de casa de manhã, chegar à creche, ir trabalhar, voltar à creche antes do prolongamento, passar no supermercado e chegar a casa para começar um novo dia de trabalho. Os transportes públicos não ajudam, o trânsito também não, os custos e os horários de tudo isto muito menos.
Ter filhos em Portugal é, em muitos casos, arriscar cair na pobreza, dobrar os custos e estagnação na carreira. Um pai que seja diretor de uma empresa e justifique a sua ausência na reunião com a administração porque foi ao dentista com o filho, está frito. E é por isso e só por isso que há mais homens em lugares de direção do que mulheres, uma vez que os consultórios de dentistas pediátricos estão cheios de mães com filhos e não de pais com filhos. Ter filhos é por tudo isto um dilema e não uma escolha livre.
Políticas de natalidade são políticas que ajudam a construir modelos de sociedade, de vivência em comunidade, que deem segurança, que facilitem a vida de quem tem filhos para que os filhos não se tornem um problema só por existirem. Ter filhos não deve e não pode ser um ato de coragem, quando é simplesmente uma prova e um sinal de vida.