Querida avó,
Na passada semana celebrou-se o Dia Mundial da Criança. Na inauguração da Feira do Livro, de Lisboa, descobri um livro que suscitou a minha curiosidade. O Período é Fixe – Aprende como funciona, escrito por Anna Salvia, ilustração de Cristina Torrón.
Neste livro, a autora fala de como a primeira menstruação muda, completamente, a vida das meninas (e da família). Explica que, quando começam a ter o período, a vida das meninas passa a ser feita de ciclos, e ficam com a capacidade de ter filhos. Enfim, tudo o que precisam de saber para viver essas mudanças com confiança e bem-estar. As meninas têm de saber como o seu corpo funciona, e se transforma.
Um livro essencial para todas as meninas que estão a começar a passar por esta mudança tão importante, que acabaram de menstruar ou que já têm o período há algum tempo.
O que é o período? O que é o ciclo menstrual? É suposto doer?
Julgo que aprender tudo sobre a menstruação, e a sexualidade, devia ser um dos direitos de todas as crianças!
Como sabemos, todas fazem imensas perguntas!
É obrigação dos mais velhos ensiná-los a descobrir e compreender, melhor, como funciona o corpo humano e as alterações próprias do crescimento.
– Porque é que as maminhas crescem às meninas?
– O que é fazer sexo?
– Como nascem os bebés?
Estas e muitas outras questões devem explicadas de forma clara, divertida e sem tabus.
Conversar sobre a sexualidade, com as crianças, evita problemas relacionados com a autoestima, previne abusos sexuais, gravidez na adolescência, respeito à diversidade ou ainda sobre consentimento.
É importante que exista espaço para essas conversas desde cedo, começando dentro de casa, como é obvio.
Não foi por causa deste tema que o teu livro Lote 12, 2º Frente, publicado na década de 1980, deu uma grande polémica?
Gosto tanto de pessoas descomplicadas.
Bjs
Querido neto,
Concordo plenamente. É dever dos mais velhos ensinarmos as crianças a conhecerem-se melhor. Realmente o meu livro Lote 2, 2º Frente deu muito que falar na altura.
Foi proibido em inúmeras escolas e muitas livrarias não o tinham exposto nas prateleiras, imagina.
«Mariana e Rosa mudaram de casa e agora têm de se adaptar não apenas à casa nova mas também a vizinhos novos, à escola nova, a colegas novos, a lojas novas e a novos hábitos. E nesse primeiro ano na casa nova, muita coisa acontece». Todos gostaram da continuação da história da Mariana, e da família. Até o corpo de Mariana fica diferente!
«Um fiozinho de sangue, morno, assim como um pequeno rio descendo pelas minhas pernas, uma dor que não o chegava a ser, como se o riozinho de sangue me quisesse apenas dizer “cheguei”. Fiquei a olhar para as minhas pernas, sem saber o que fazer. A olhar só».
«Eu sabia que aquilo havia de me acontecer um dia. A mãe já me tinha avisado, já me tinha explicado tudo, mas é sempre diferente a gente saber porque ouve, e a gente saber porque vê e sente. Fui ao armário da casa de banho buscar algodão e comecei, lentamente, a limpar as minhas pernas. Era preciso chamar a mãe, mas não sei porquê sabia-me bem estar sozinha a tratar de mim. Sozinha a olhar para meu sangue. O sangue que, tal como a mãe dissera, a partir de agora todos os meses ia sair de mim durante uns dias. O sangue que, de um momento para o outro, me tornava muito mais crescida».
Foi “apenas” isto que deu uma grande polémica.
Quando era pequena não se falava disto em casa…
As coisas horrorosas que ouvi dizer pelas outras lá na escola, como se fosse o fim do mundo que nos acontecesse:
– Se lavares a cabeça nessa altura ficas maluca.
– Se andares descalça, ficas com a boca torta.
– Se fores passear ao campo, vêm os lagartos atrás de ti.
– Se estiveres a fazer comida, ela fica estragada.
Enfim!
Bjs
