Reprovar é a solução?

Olhando para o número de reprovações, é legítimo questionar que apoio foi prestado a estes alunos e que estratégias foram utilizadas para promover a sua evolução. Se as avaliações utilizadas foram adequadas

Com o final do ano letivo, muitos alunos já estão tranquilamente de férias, outros em aulas ou exames, alguns sabem que irão ficar retidos e outros sentem-se no limbo, dependentes da boa-vontade dos professores ou de uma estrelinha da sorte.

Ao mesmo tempo que em Portugal continuam a registar-se taxas de reprovação elevadas, sobretudo no ensino secundário – com municípios onde esta percentagem atinge valores impensáveis – vários estudos indicam que não existe uma relação direta entre a retenção e a melhoria das notas no ano seguinte. Pelo contrário, a reprovação pode ser um indicador de futuras retenções e até de abandono escolar.

Quando olhamos para a escola não apenas como um lugar de partilha de conhecimentos, mas também como um espaço de crescimento pessoal e académico, de criação de laços afetivos e emocionais, podemos ter alguma dificuldade em compreender que se rompa o vínculo estabelecido com os professores e colegas, que previa um compromisso de crescimento conjunto. Especialmente quando o aluno é deixado para trás por não conseguir atingir as expectativas estabelecidas para a sua idade, num sistema de ensino que ainda não dispõe de estratégias eficazes para apoiar quem não se encaixa no padrão esperado.

Neste sentido, perante o carimbo de ‘reprovado’ na avaliação de alguns alunos surgem inevitavelmente algumas dúvidas: o que ou quem falhou? O que foi feito e o que ficou por fazer? Que contexto e que características tem aquele aluno?

Fica ainda a dúvida se a reprovação será a solução para que o ano seguinte seja de sucesso e amadurecimento ou, pelo contrário, se será um ano de maior desmotivação, estigma, dificuldades sociais ou até, a primeira de um ciclo de reprovações, que poderá culminar no abandono escolar.

Olhando para o número de reprovações, é legítimo questionar que apoio foi prestado a estes alunos e que estratégias foram utilizadas para promover a sua evolução. Se as avaliações utilizadas foram adequadas. Se o aluno tinha capacidade para responder aos métodos aplicados. Se foi feito tudo para evitar este desfecho.

A reprovação é muitas vezes o sintoma de que algo não está bem com o aluno. Reprová-lo pode significar ignorar a origem do problema e entregá-lo a outros professores, que o irão receber de forma agravada. Em última análise, pode revelar lacunas no sistema educativo, que nem sempre consegue acompanhar devidamente o aluno desde as primeiras dificuldades.

Neste sentido, quando encontramos alunos que repetem o ano uma e outra vez, devemos perguntar-nos o que a escola fez para inverter esse ciclo, o que está a falhar, que objetivos e que plano foram delineados. Será justo – ou razoável – um aluno reprovar repetidamente tendo em conta o impacto que isso terá na sua vida e também nas turmas que o acolhem? Qual é, nestes casos, o verdadeiro benefício da reprovação? E o que se vai fazer de diferente no ano seguinte?