Falando de Futebol

Sempre foi uma sportinguista ferrenha! Aquela marcha, que ainda hoje se ouve nos jogos, foi imortalizada por ela. Mas não foi só isso. Ela teve uma carreira longa na rádio, na televisão e nos palcos. A sua voz fazia parte do dia-a-dia dos portugueses.

Querida avó,

O assunto “Futebol” raramente é abordado nas nossas conversas. No entanto, não posso deixar de referir o estado de alegria em que se encontram os sportinguistas, este ano.

Quem deve estar muito feliz, na sua morada eterna, é a Maria José Valério. Não imaginas as saudades que sinto dela, cada vez que vou à Casa do Artista.

Maria José Valério foi um grande nome da música portuguesa! Uma voz que atravessou gerações. Nasceu em 1933 e ficou muito conhecida por cantar a famosa “Marcha do Sporting”.

Sempre foi uma sportinguista ferrenha! Aquela marcha, que ainda hoje se ouve nos jogos, foi imortalizada por ela. Mas não foi só isso. Ela teve uma carreira longa na rádio, na televisão e nos palcos. A sua voz fazia parte do dia-a-dia dos portugueses.

Cantou fados, marchas populares, canções ligeiras. Teve muito sucesso nos anos 50 e 60. Participou no Festival da Canção, viajou para o estrangeiro a representar Portugal, e ainda foi uma das primeiras a cantar na televisão quando esta era a preto e branco!

No dia do enterro, a viatura funerária deu uma volta ao Estádio do Sporting, com uma paragem onde se realizou um minuto de silêncio.

O Sporting Clube de Portugal, despediu-se da artista com um “até sempre”.

A sua voz vai soar eternamente nos corações dos sportinguistas: «Criou e cantou a marcha/ Que é a de todos nós/ Cantam todos os do Sporting/ Desde os netos até aos avós».

«Rapaziada, ouçam bem o que eu lhes digo/ E gritem todos comigo: Viva ao Sporting!/ Rapaziada, quer se possa ou se não possa/ A vitória será nossa, viva ao Sporting!»

Maria José Valério é parte da nossa cultura! Ajudou a dar voz ao espírito português, à alegria dos Santos Populares, ao amor pelo clube, e à saudade. Mesmo já tendo partido, em 2021, a sua música continua viva.

Depende de todos nós mantê-la viva nas nossas memórias.

Bjs

Querido neto,

Nem me fales da Maria José Valério! Gostava tanto dela. Como muito bem referiste, foi um grande nome da canção portuguesa.

Era sobrinha do compositor Frederico Valério (1913-1982), na década de 1950 participou em vários espetáculos de variedades da antiga Emissora Nacional, e nas emissões experimentais da RTP, na Feira Popular, em Lisboa, depois de ter frequentado o Centro de Preparação de Artistas da Rádio da Emissora.

Em 1960, foi eleita rainha da Rádio de Goa, território então sob administração portuguesa e, dois anos depois, casou-se com o matador de touros José Trincheira, acontecimento que marcou a atualidade da época, com transmissão em direto pela RTP e bênção pontifícia, lembro-me como se tivesse sido ontem.

Faz parte da história da cultura portuguesa, como podes ver.

Em 2004, recebeu a Medalha de Mérito da Cidade de Lisboa, grau ouro.

Falando de futebol, há alguns anos a União Europeia fazia uma coisa muito boa: cada país escolhia um escritor e enviava-o durante um mês para uma escola de uma cidade europeia. Durante esse mês o escritor tinha de ensinar aos miúdos tudo sobre o seu país.

Portugal escolheu-me a mim, lá fui eu até Bourg-Sur-Gironde (uma cidade lindíssima perto de Bordéus).

Quando entrei na escola a miudagem andava aos saltos na sala de aula, ninguém ouvia o que eu dizia e eu não sabia o que havia de fazer. De repente lembrei-me que o Pauleta jogava num clube francês (agora não me lembro qual) e tive esta ideia salvadora: «Sabem quem é o Pauleta?» – perguntei aos miúdos.

Todos sabiam, claro.

– Querem que o traga cá?

Levei-o lá à escola – e os miúdos adoraram.

 A partir desse dia os miúdos fizeram tudo o que pedi, e no fim do ano sabiam tudo sobre Portugal, a nossa história, a literatura, tudo. Correu tão bem que a escola me pediu que fosse lá outra vez no ano seguinte – e fui.

Devo tudo isto ao Pauleta.

Como se prova, o futebol é muito importante.

Bjs