Com juízes destes estamos conversados

O facciosismo tomou conta das televisões e não faltará muito para andar tudo à batatada. A guerra no Médio Oriente e na Ucrânia parece ter chegado aos estúdios televisivos com todo o estrondo. Aconselha-se alguma calma à rapaziada.

Foi uma semana em cheio para tanto palpiteiro em assuntos internacionais. Eu, confesso ignorante na matéria, digo que enjoei tanta certeza: o Irão está por cima; os americanos só fizeram cócegas nas instalações nucleares; os israelitas nunca mais serão os mesmos depois da derrota infligida pelos iranianos; como foi possível os iranianos conseguirem ‘romper’ os escudos israelitas; Donald Trump é uma marioneta de Benjamin Netanyahu; Israel derrotou para sempre o Irão; a paz vai chegar de vez. Foram estes, entre tantos outros palpites, que me fizeram, estranhamente, não querer ver os debates que enchiam os vários canais. Viciado em informação, vou vendo aqueles que acho mais moderados e que dizem algo que faça sentido para mim, mas esta semana fiquei sem paciência e já nem me apetece dizer mal de figuras como Agostinho Costa.

Como é possível as pessoas terem tantas certezas sobre figuras que estão ‘noutro planeta’? A propósito de Donald Trump, que ainda não percebi se é um génio ou apenas um louco, ou ambas as coisas, sabendo eu que detesto o estilo e aquilo que aparenta ser, lembro-me sempre da afirmação ao_Nascer do SOL de Carlos Guimarães Pinto sobre o Presidente norte-americano: «O que importa para ele é a ação que as palavras criam, não o seu conteúdo».

No conflito que opõe Israel e EUA ao Irão, as pessoas não conseguem ter um mínimo de distanciamento, mostrando todo o seu facciosismo. Há uma cultura muita enraizada na esquerda portuguesa de que é preciso combater o capitalismo dos americanos, quando muitos deles são grandes beneficiários dessa cultura. E falam tanto que gostaria de os ver a viver no Irão, principalmente mulheres, gays e afins, ou mesmo na Rússia.

Deixemos a guerra para trás e falemos de um tema que me chocou em terras lusas. O Centro de Estudos Judiciários (CEJ) anulou um exame de Direito Penal e Processual Penal de uma turma de futuros juízes e procuradores, depois de descobrir que alguns alunos tinham tido acesso prévio ao enunciado da prova. Que raios! Futuros juízes e procuradores procuram saber o tema do exame para se safarem? Com casos destes em quem podemos confiar? Tudo terá sido descoberto porque uma aluna enviou um email para várias pessoas – felizmente mandou para uma que não devia ter mandado, calculo eu – com a frase «violência apenas a subtração concurso furto», informação que dava todas as pistas para o tema central do exame. Não percebi se essa aluna foi ou não excluída da prova que se realizou na passada segunda-feira, mas que devia, lá isso devia. Se os valores já não contam para os magistrados, então estamos mesmo entregue à bicharada.

Nos últimos tempos tenho feito vários artigos sobre as forças de segurança e em quase todos alguém diz o mesmo: «As pessoas têm vergonha de vestir uma farda de polícia, pois são muito castigadas socialmente e, por isso, além dos baixos ordenados, os concursos ficam a meio gás». E não é só a PSP, o mesmo se passa com os Guardas_Prisionais. Desde o confinamento da covid que o mundo nunca mais foi o mesmo. Como que por artes mágicas, algumas profissões ficaram esvaziadas ou com muito menos trabalhadores e o futuro tornou-se incerto em algumas áreas. A propósito, quando há cerca de um ano e meio entrevistámos, por escrito, os chefes de Estado Maior de todos os ramos das Forças Armadas, houve uma pergunta que nenhum respondeu: «No futuro, Portugal vai ter que recorrer a soldados com dupla nacionalidade ou mesmo estrangeiros?». Curioso o silêncio dos militares.

Telegramas

As companhias que tiram votos
Henrique Gouveia e Melo começou a descer nas sondagens desde que nomeou Rui Rio como mandatário nacional. Outra coisa não seria de esperar. Mas o seu fascínio pela Maçonaria também lhe pode tirar mais uns votos, pois há quem seja alérgico a aventais e a personagens como a cardeal Richelieu, na sua versão portuguesa.

Um mistério de Ministério Público
Lê-se e não se acredita. O Tribunal Central Administrativo Sul aceitou uma ação intentada pelo Ministério Público que considera uma violação do direito de acesso universal e em condições a bens culturais de interesse nacional, o facto de só os lisboetas não pagarem entrada nos monumentos nacionais como o Castelo São Jorge ou  a Casa Fernando Pessoa. O MP não tem mais nada com que se preocupar?

Mistério das prisões
Haverá alguém no Governo que consiga explicar a razão para o site da Direção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais ainda não ter os dados de 2024 atualizados?