Verão: Tempo de criar memórias

As férias em família são muito especiais porque ajudam a criar memórias que ficam para sempre. Para muitos, o momento de convivência mais longo que têm ao longo do ano.

Querida avó,

Nesta primeira semana de julho, esteve “Um calor dos ananases”! Nem todos sabem de que foi Eça de Queiróz, que trocando correspondência com Fradique Mendes, terá escrito “isto está de ananases”, comentando o calor que se fazia em agosto. E assim esta frase queirosiana ficou para sempre nas nossas conversas sobre o tempo.

Este mês marca também o início das (desejadas) férias para muitos.

Recentemente, li um artigo onde fiquei a saber que existem pessoas que vivem em parques de campismo todo o ano, imagina. Embora não seja a prática mais comum, algumas pessoas adotam este estilo de vida, nomeadamente, depois de reformadas.

Nunca acampei, acreditas?

Muitos também optam por ir de férias, ano após ano, para o mesmo local. Seja com familiares seja com amigos.

As férias em família são muito especiais porque ajudam a criar memórias que ficam para sempre. Para muitos, o momento de convivência mais longo que têm ao longo do ano.

Atualmente, gosto de diversificar nos locais para onde escolho ir de férias.

Durante a minha adolescência, passei inúmeras férias na zona de Peniche.

Tenho recordações inesquecíveis dessas férias. Frequentava muito a Praia do Baleal. Nos dias encobertos visitava locais como a Fortaleza de Peniche e o Cabo Carvoeiro… Lamentavelmente, nunca fui à Reserva Natural das Berlengas.

Ainda me recordo de passar na rua e ver as mulheres a fazer a belíssima Renda de Bilros.

Adorava ir às Festas de Peniche, em Honra de Nª Srª da Boa Viagem. Inesquecível a tradicional Procissão do Mar, uma procissão marítima noturna única em Portugal.

Fiz amizades que mantenho até os dias de hoje.

Com este calor é preciso hidratar! E nem só com água se hidrata o corpo e alma. A fruta fresca também ajuda.

Já que está um “Um calor dos ananases”, vou comer um ananás, uma fruta sempre fácil de descascar.

Aí pela Ericeira deve estar bem mais fresco.

Bjs

Querido neto,

Efetivamente, na Ericeira está bem mais agradável (para quem não gosta de muito calor, claro). Aliás, como dizia o Professor José Hermano Saraiva: «A Ericeira não tem banhistas, tem devotos».

Como sabes, as minhas memórias de verão estão ligadas à Ericeira, onde vivo, de momento, e também à Costa Nova, para onde comecei a ir depois de conhecer o Mário Castrim.

No entanto, se recuarmos mais umas (largas) dezenas de anos, as minhas memórias recaem no Termas e no Grande Hotel da Bela Vista, em Caldelas, Município de Amares, onde passei grande parte das férias na minha infância.

Locais e experiências que ainda hoje guardo no meu coração e que retratei, na primeira pessoa, no meu livro Águas de Verão.

Voltei lá há uns anos. Num fim de tarde, também, quente no Parque das Termas, onde vivi um momento intimista com os presentes, com quem falei de experiências, afetos, e fiz uma retrospetiva sobre a minha vida e obra.

Imagina, de repente chego a uma terra onde já não ia há 60 anos. Mas onde durante dez anos consecutivos passei sempre as minhas férias de verão. As termas de Caldelas. O Hotel da Belavista. Desde os meus 4 anos aquele era o meu paraíso. Lembro-me da cara e do nome de toda a gente. Da Rosalina, que tratava de mim, desde as refeições até à hora de deitar. Da D. Adriana, do Sr. Fortuna e do Sr. Gualberto, que tocavam música ao jantar. Do Manel, do PBX. Da Miki e da Mitucha, minhas amigas e filhas do Dr. Castro Amaro que era o médico das termas. E de tantos outros. Parecia que estava a vê-los todos à minha frente. Falei de toda esta gente, que já ninguém se lembra. Nem de alguma vez ter existido um Hino das Termas de Caldelas. Ainda hoje o sei do princípio ao fim, sem uma falha.

Quando realizamos a exposição sobre a minha vida e obra no Município de Amares? Gostaria de voltar a recordar estas memórias vividas em Caldelas.

Bjs